terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Roulette

Eu preciso de música. Eu preciso ouvir músicas novas sempre, nem que eu não saiba o nome, nem quem canta. Uma promiscuidade musical. É igual com comida. Preciso do novo, nem que seja durante só uma música. Sensações etéreas. Como flutuar no plasma, que te envolve todo o corpo, te sufoca, te cega, te cala. Só o ouvir importa. Ativa todo o resto das tuas percepções. Entra nas veias e te faz pulsar e fluir  e vibrar.  E aqueles sons que marcam, que se afincam na gente, acham um vinco pra se instalar. Uma barreira de corais de sons e sensações.


Gostamos de coisas que nos alteram, que modificam nosso estado. Sair seguramente do lugar comum é viciante, é libertador. 

Cada som é único, mesmo que lembre mil outras coisas.. Acho que isso é ser único, ser um patchwork de referências, de intertextualidades, de influências.... aquela eterna construção de si mesmo, adicionar, excluir, desfazer, reviver, repensar, deixar pra outro dia, deixar pra nunca mais... E sentir, sentir, sentir, se fundir ao tudo, ao nada, dentro de si. 




Ouve lá e depois comenta teus gostos:




quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Atestados

Você quer ser diferente que eu sei!!!

Você é rebelde. Você acha isso legal.

Por que tu se veste assim?

Tu não vai emagrecer.

Pra quê essas tatuagens? E depois quando você ficar velha? E se sofrer um acidente e estragar o desenho?

Eu duvido que você escute esse tipo de música. É uma barulheira. me irrita, me deixa tonto. E eles nem cantam, só gritam umas coisas nada a ver.


Duvido que se começar um sertanejo você não comece a dançar. Du-vi-do!

Ahh, não!!! É impossível viver sem a globo.. Eu não sei o que faria sem minha novelinha!!!

Tá, daí tu escuta as músicas sem ver a tradução? E tu entende? Como?

Capaz que vai conseguir ver filme sem legenda.... "Daonde", né?

Como assim não vai ter filho? E o sentido da tua vida o que vai ser?

Humm. praia vazia.. é estranho.. não te dá uma sensação de vazio? Eu não gosto. Não sei como você gosta.

Deuzolivre morar no mato. Gosto de gente, de barulho, festa, agito, bebedeira. Tu só pode ser louca de querer essas coisas!

E tu não dá umas escapadinhas às vezes? Vai dizer que não é bom?



Essas são frases que venho ouvindo de todo tipo de pessoa ao longo da minha vida.
Algumas desses pessoas foram só passer-bys, gente que não sei nem o nome.
Outras foram pessoas conhecidas e até amigas.
Mas, não importa a que grupo pertençam as bocas que pronunciaram essas frases.
Quando alguém pronuncia um sentença dessas exclui toda e qualquer possibilidade de admiração minha. E aqueles que a tinham, automaticamente a perdem.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A arte de mudar


Saímos para jantar. Inicialmente não temos rumo. Gostamos disso às vezes pois aproveitamos para dar uma caminhada ou uma volta de carro. Bem, é certo que muitas vezes acabamos tendo uma ideia de algo realmente saboroso, saudável e limpo - coisa difícil de encontrar numa noite de qualquer dia da semana nessa cidade.


Somos muito companheiros hoje. 'Hoje' na frase funciona sintaticamente como advérbio de tempo, pressupondo que antes não o éramos. Concluindo: apliquei bem o advérbio: nos tornamos companheiros ao longo desses 6 anos que nos unem. 

Resolvemos ir a um lugar cheio, frequentado por todo tipo de gente. Noite de estudos antropológicos, o vouyerismo das relações humanas sem ensaio ou fakeness, sem aviso. Um estudo ao natural.  Há muitas famílias, alguns que pressupomos serem somente amigos, outros talvez colgas de trabalho, alguns outcasts se sentindo à vontade (como isso me deixa feliz!) e mais dois casais além de nós. 

Enquanto esperávamos nossa pizza, que surpreendentemente veio rápido e mudava somente o sabor da doce em relação às meninas-que-beijam-meninas ao nosso lado. Nós preferimos banana nevada; elas, morango com chocolate. É, banana não é muito convidativa.... observávamos todos felizes, exceto os casais. 

Estavam sentados em mesas diferentes. Elas olhavam incessantemente para seus celulares,creio que na Internet. Eles olhavam para a tv sem prestar atenção, ou olhavam as mãos, ou olhavam o nada, a mesa vermelha, difundindo o olhar num emaranhado de pixels iguais.

Uma das moças estudou na mesma escola que eu. O Vini me disse que eles não combinavam em nada. Eu repliquei dizendo que não num primeiro olhar, mas que as caras-de-nada deles os transformavam em um casal parecido. O outro casal vez que outra trocava algumas palavras. Eles não se tocavam, não sorriam, não exprimiam nenhuma reação que não  a cara de paisagem, poker faces tristes e vazias.

Talvez eles não sejam assim, mas o retrato daquele jantar me deixou irritada. tinha vontade de ir nas mesas e dizer: conversem um com o outro, se descubram, se apreciem, riam, chorem, mas por favor, interajam!!!!  Há quem diga que isso existe em função da internet móvel. Mas e antes? Ahhh, antes era a tv.. as e antes da tv? Ahh, antes da tv a mulher era a inferior... E antes disso?? Antes eram homens das cavernas???

Não. Nenhuma dessas respostas me cabe. Não consigo conceber nenhuma delas como verdadeira. Temos como verdade de que o ser humano é um ser superior a todos os outros. Estamos no topo da cadeia alimentar, não estamos? Somos os únicos dotados de polegares opositores, não somos? Somente nós somos capazes de pensar de forma complexa, o que garantiu a criação de não só uma, mas inúmeras linguagens e códigos que nos permitem transitar e nos comunicar com qualquer pessoa ao redor do mundo. Então, porque não conversamos com a pessoa que é nossa companheira? Que supostamente nos ama por inteiro  por quem somos, por como somos???? 



Como eu disse antes, fomos mudando aos poucos. Fomos nos aprendendo. Eu fui aprendendo quem eu sou, aprendendo a forma como eu mudo,  forma como me transformo diante das situações que enfrento. Ele foi fazendo o mesmo. E fui aprendendo ele e ela a mim. Um sendo suporte do outro, sempre buscando uma evolução emocional e intelectual. Confesso que minha maior dificuldade foi aprender a conversar, a não ter medo de ser julgada, ou de ser abandonada. Demorei muito tempo, mas aprendi. E esse aprendizado me proporcionou a maior sensação de liberdade que eu já senti.

Antes iniciei esse texto falando de uma amada Gloss - uma jovem revista glam-fútil-interessante-com-swag que acabou falecendo (irônico, não?)- em que a colunista expunha um caso de amor que nasceu de uma amizade. Ela conta que conversava muito com esse cara, falava de seus problemas, de suas vergonhas, de seus medos e de coisas positivas. Ele acabou se apaixonando por ela, pois ela é uma mulher interessante e verdadeira. E ela diz que pode sentir-se amada por inteiro, pois não inventou um passado a fim de ser amada e aceita. E essa é a liberdade que eu acho que todas as pessoas buscam: a liberdade de ser você mesmo.
Acho que não só os casais, mas as pessoas todas num geral deveriam repesar em todas as suas relações, em qual o valor de um julgamento, ou quanto pesa para si ser quem se é de verdade. Porque dói manter uma imagem que não reflete o real. Não é como Macabéa, privada de se descobrir, privada de existir, privada por alienados. É a própria privação. É o encarceramento de um potencial imensurável, pois jamais será explorado. É como arrancar os próprios lhos, como deixar todos os dias passarem sem ter vivido.

Acho que não só os casais, mas as pessoas todas num geral deveriam repesar em todas as suas relações, em qual o valor de um julgamento, ou quanto pesa para si ser quem se é de verdade. Porque dói manter uma imagem que não reflete o real. Não é como Macabéa, privada de se descobrir, privada de existir, privada por alienados. É a própria privação. É o encarceramento de um potencial imensurável, pois jamais será explorado. É como arrancar os próprios lhos, como deixar todos os dias passarem sem ter vivido.


Conforme fomos crescendo e nos amando cada vez mais, depois de extensas brigas e discussões, choro e desespero, descobrimos qe podemos ser quem somos um para o outro. a vida é uma só - eu sempre digo-, mas então por que raios eu não aproveitava essa vida? Por que eu insistia em ser quem eu achava que ele queria que eu fosse? Por que não falava quando algo me perturbava???  Eu sempre fui a amiga psicóloga, a amiga que não julga, mas ajuda.... Por que eu não conseguia ser assim? Eu não tinha segurança? Eu não sei exatamente como, mas eu mudei. Eu mudei para algo de que me orgulho, algo que amo, que me deixa tranquila. Não tenho mais nóias, nem ciúmes sem pé nem cabeça.


A beleza da vida está na mudança. A capacidade de compreender e apreender o novo é o segredo. Não sei.o que seria de mim se eu não mudasse, se tivesse permsnecido sempre com a mesma ideia do mundo, ou pior: com a mesma ideia de mim mesma. Seria como morrer e continuar vivendo. Afinal, a vida trata de nascimentos, especialmente daqueles de nós por nós mesmos. 

Tenha coragem.Afinal, a vida é uma só. 








[Esse texto foi escrito ao som de: nenhuma música- somente o silêncio interno e os grilos do terrenos baldio ao lado - paz]

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Feliz dia dos professores

Noite passada fui a um evento destinado à minha classe. Bom, vamos começar pelo princípio: como assim classe? Classe operária? Classe de classudo? Classe de turma? Acho que temos que parar com essa denominação, porque, claramente, nós como educadores, não devemos generalizar, mas ter um olhar único sobre cada um de nossos alunos, simplesmente pelo fato de eles serem indivíduos únicos, cada um co sua bagagem, seu talentos e dificuldades. Muitos professores não têm classe nenhuma: ou tem a mente fechada, ou são daqueles que dizem que o problema da compreensão de um aluno em entender qualquer questão (de qualquer matéria) é do professor de Língua Portuguesa - convenhamos: burro esse professor que não ensinou seu aluno a interpretar suas próprias questões!!! - Outros não tem classe porque são os julgadores... julgam tudo nos colegas: suas práticas, sua maneira de vestir, sua fala... e cometem erros crassos em suas próprias salas de aula. E, finalmente, não somos classe- turma pois somos diferentes. Nosso background é diferente, nossas gerações são diferentes, nossas crenças quanto a ensino e aprendizagem são diferentes, nossos interesses, nossas vontades, nossa criança interior, nossos laços, nossa maneira de ver o mundo... temos nossa classe no meio de tantos, mas não somos todos uma classe.  Acho que esse é um erro também, da nossa configuração escolar.... mas isso é tema para um texto mais adiante, mais extenso e ainda cheio de duvidas.

Mas continuando ao que eu estava querendo falar sobre: a palestra de ontem. Enquanto a professora falava, dava exemplos e dizia que não devemos simplesmente ensinar a fazer. Isso na verdade é habilidade. Mas que devemos ensinar competência,ou seja, saber fazer. Eu olhava em volta e via meus professores do IMD, hoje colegas de trabalho, e pensava em como eu tive a sorte de ter tantos bons mestres. Ao meu lado sentavam duas professoras, uma de Ciências e outra de História e, na fileira atrás ma de Matemática. Foram minhas professoras pela primeira vez na quarta e sétima série. Lembro das aulas delas, lembro do que diziam e de onde nos levavam, lembro dos mapas, dos desenhos no quadro, das brincadeiras, das músicas... da voz delas falando comigo. Espalhados pelo auditório havia mais professores meus: de Ed. Física, Ensino Religioso (as manhãs de formação, falando sobre o bem viver entre as pessoas, sempre em algum lugar junto à natureza e com lanche comunitário!) , Informática, Sociologia, Geografia (ah, como eu lembro das aulas de campo! Como me instigaram e me fizeram feliz), Literatura (com muita cantoria, leitura)..... não vi muitos dos meus profs, mas vejo alguns diariamente nas escolas em que sou professora, ou nos conselhos de classe, ou nas reuniões pedagógicas. E fico pensando que, com a exceção de poucos, tive guias que me ajudaram a ter competência. Me ajudaram a ser uma pessoa mais ampla e completa pois me ensinaram sobre mim mesma, me mostraram suas paixões e me deixaram escolher as minhas.


A professora palestrante falou algo muito importante: os alunos não são filhos nossos, mas da escola. É verdade. O tempo livre que andei pelo Menino Deus me transformou também. Poder ir sozinha à biblioteca e sentar no chão, entre as estantes e poder escolher o livro que eu quisesse, no meu tempo, sem alguém me apressando fez toda a diferença... ou ficar lá lendo, sozinha.. Ahh!!! Delícia.. Ou ir no pátio interno, no orquidário do Pe. Oscar, ver os porquinhos da índia, as galinhas, os coelhos... Na minha época era proibido ir lá. Mas eu ia, não porque não podia, mas porque encontrava paz, sossego, calma para minha cabeça. minha sala era cheia de conversadores (eu inclusive). O IMD é mágico também por causa do mato. Eu ia pro mato no turno inverso, comia frutas silvestres, achava umas borboletas gigantes, via uns bichos, curtia o cheiro da vegetação, a luz do sol passando por entre as árvores. No 3º ano tive uma colga intercambista da Alemanha.. a gente matou aula um da nesse mato, o Padre foi atrás de nós. Rimos muito!!!! Eu também ia de tarde comer jabuticaba. Me sujava de barro, de suco de jabuticaba e de cachorro, porque brincava com os da escola.... nossa, era uma aventura atrás da outra... são incontáveis causos....

E pensando em tudo isso, somado às pessoas que fizeram parte disso, desde as tias da limpeza, as tias do bar, os funcionários e professores, sei que minha formação foi completa porque, acima de tudo, foi humana. Nunca fui barrada de dizer minhas opiniões. Nunca fui barrada de fazer perguntas, por mais idiotas que pudessem ser. Sempre fui incentivada a explorar minha criatividade e a fazer coisas novas. Sempre fui tratada de forma única e com muito carinho, atenção e respeito.


É claro que não posso, erroneamente, dar glórias somente à minha escola de criação. Ela fez parte da fase mais intensa de aprendizado da minha vida. Minhas professoras do pré à 3ª série me ensinaram com precisão e beleza. As e os profs de ensino fundamental me instigaram muito e os de ensino médio me fizeram descobrir quem era e quem queria ser. A faculdade me trouxe um insight mais intenso, numa busca sobre o que realmente me interessava para a vida. Acontece que não... não é só a língua que me interessa... e isso é culpa da escola, que me tornou um diamante multifacetado e plural, sempre em busca de mais e mais, cheio de interesses sobre diversas coisas. Na faculdade pude descobrir um outro lado meu e um outro lado do que significa ser professor.

Descobri que professores são pessoas comuns, que trabalham muito em prol de um mundo habitado por pessoas mais inteligentes, capacitadas, interessantes, multifacetadas e plurais, pessoas que saibam ler o mundo de diversas formas, de diversos ângulos.   Depois comecei a trabalhar de verdade e tive a oportunidade de conhecer colegas maravilhosas, com muito a ensinar a mim e a todos. Aprendi e continuo aprendendo muito com meus antigos e novos colegas e professores.

Neste dia que comemora nossa existência, quero dar graças a todos os professores e professoras que passaram neste mundo e ainda vão passar para tocar a alma de pelo menos um ser humano e, assim, transformar o mundo. Porque acredito que o que nos move é o saber, é o conhecer, o compreender tudo que nos for tangível, seja de forma física, psíquica, emocional, de comunicação ou de qualquer outra forma de interação. E é necessário muito amor para ensinar isso aos outros. Obrigada a todos os que me ensinaram algo e me constituíram até o presente momento. Obrigada por compartilharem esse amor.


Feliz dia a todos, por mais que não sejam professores de profissão, mas sejam por natureza.

Feliz dia dos professores!





sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Just push play

Eu AMO música. Amo. Não há nenhuma expressão artística que se compare à música. Me desculpem. Eu mesma fiz meu TCC da graduação em leitura... devia ter feito sobre a leitura de músicas. Acho que teria me decepcionado.

A música é a união de uma letra bem construída devidamente ritmada por guitarras, baixo, bateria e uma boa voz. Outros elementos sonoros são bem vindos, desde que toquem tua alma, pulsação, frequência cerebral e teu humor, é claro. você precisa estar conectado ao que a música te passa, de uma certa forma. Não há como ouvir Rockabilly se eu não estiver faceira, acelerada... nem como ouvir Johnny Cash se eu não estiver levemente melancólica. É impossível. A música expande a tua percepção, te abre para teu inconsciente.

Devo agradecer aos meus pais e minha tia pela abrangência de gostos. Meu pai é viciado em rádio. Desde pequena ouvia a rádios de outros países e conheci muitas bandas. Lembro de o pai ir me levar na aula de inglês e pararmos em frente a um prédio onde pegava uma rádio do Japão, se não me engano.. A gente ia mais cedo para ficar ouvindo um pouquinho. Nas viagens de carro ele levava cds com mp3 - era incrivelmente possível colocar 300 faixas... naquela época antes do pendrive e dos cartões.

Minha mãe gostava de ouvir umas músicas mais doidas, mais deprês ou diferentes. ela gosta de peso também. Limpava a casa ao som de Pink Floyd, Midnight Oil, Blonde, um cd que roubei dela com a trilha de Foxfire. Ela curtia trilhas de filmes.

Minha tia tinha Nina Haeggen, música peruana, Fado, Miles Davis, a trilha de Filadélfia - que me deixava triste, mas confiante no meu inglês, Ace of Base- que debulhei fazendo coreografias e cantando!- e mais uma infinidade músicos de Jazz, Blues  músicas típicas de outros países.

E teve o que eu fui descobrindo com amigos, gente da inernet,do mirc, do ICQ, das redes sociais, de pesquisar no Google, nas sugestões do Youtube. E o Vini, que me tirou os preconceitos musicais, me ajudando a refinar.

Eu acho que música tem capacidade de te transformar de uma forma mais ampla que só a leitura. A música entra, abrange mais sentidos, é como se teu corpo todo estivesse infuso em sons e sentimentos e sensações. Tudo se aguça, tudo se torna perceptível. Além de que a música exige que sejam feitas leituras não somente da letra, mas dos instrumentos. Conseguir captar o som de cada instrumento é uma arte. Quando comecei a me dar conta de que eu conseguia isso ouvia umas 10 vezes o meso som, mas cada vez prestando atenção em elementos diferentes.... o baixo era sempre o mais difícil.. Teve uma época em que quis ser baixista.. mas meus dedo não servem para trocar nenhum instrumento... sou muito discordenada.

Outro aspecto interessante da música é o vídeo... sempre lembro do documentário "Video killed the Radio" (sugiro) em que é possível ver como a indústria fonográfica teve de mudar "to amp this feature"...Ninguém sabia na real o que era fazer um vídeo que combinasse com  música.. Aí foram fazendo de tudo. Ahh os clipes de Metal que passavam a partir das 4 da madruga na MTV. sucessooo!!! Hoje os vídeos são bem produzidos.. não só em questões tecnológicas, mas em conteúdo, em figuras de linguagem, no uso de luz e sombra, na atuação da banda e dos atores. O vídeo virou um filme curto. E precisa ser compreendido no contexto com a música e todos os seus elementos escritos, não escritos, sonoros e vibratórios..

Um dia um aluno me perguntou se eu prestava atenção na letra de todas as músicas que eu ouvia.. e se eu traduzia tudo... tipo, se eu ia catar a letra, traduzir, ou catar a tradução... Pois bem.. não, eu não presto atenção na letra de tudo que eu escuto. Uma porque eu escuto todo dia muita coisa, segundo porque tem estilos musicais em que não é possível entender a letra. Mas procuro entender as letras das de vocal mais claro. E aí vem a questão de como a música me ensinou sobre línguas: comecei a aprender inglês formalmente aos 5 anos de idade. tinha professor que ia em casa.. eu gostava, eu amava. Não foi algo orçado, uma vez que eu sentava no colo da tia pra ouvir ela fazer os homeworks desde os meus 3 aninhos. Quando comecei a ouvir música que não fosse de apresentadora de programa infantil eu já tinha uma certa compreensão auditiva e um certo vocabulário. então eu traduzia só as partes que eu não compreendia.. e assim fui só agregando conhecimento linguístico. eu decorava as músicas e ficava cantando na janela de vidro espelhado.. numa parte da grade era possível eu enxergar somente minha boca..e eu me puxava na pronúncia... Eu nunca parei de aprender novas palavras, gírias, regionalismos e tudo mais que pode conter uma música... aprendi espanhol com a Shakira...pelo menos um pouquinho.. depois parei de ouvir músicas em espanhol...

A música me trata e me salva e me cura como nenhum outro remédio. Às vezes preciso de altas doses de uma banda ou estilo, como um antibiótico, cujo tratamento não deve durar menos de 5 dias. às vezes é só uma música... só pra dar aquele gostinho, saciar...uma sobremesa.

Eu vivo de música mais do que de qualquer coisa. Se eu dormir tarde é porque fiquei no Youtube num incessante "videoroulette" (ou seria "soundroulette")... Fuciona da seguinte forma:

  1. 1- abra um vídeo de uma banda conhecida, mas sem digitar o nome da banda na busca... melhor pegar das sugestões..  e tem que ser de um tipo de música que você esteja a fim de ouvir.. 
  2. Vá nas sugestões à direita da tela e, sem olhar, clique em um vídeo.
  3. Não olhe o clipe. Primeiro ouça a intro. Vale a pena? Continue até chegar o vocal.
  4. Se o vocal não de certo, clique em outro vídeo da lista à direita, repetindo os passos 2 e 3.
  5. Se o vocal der certo, veja o vídeo.
  6. Se o video der certo, faça uma playlist no se canal.

Conheci umas 40 bandas assim, nos últimos meses.. Passei a assinar canais e recebo sugestões diárias de sons. Internet!!!Internet saved my ears. Imagina se hoje só existisse rádio e eu fosse condenada a ouvir só o que toca comercialmente.., Nossa.. se há um inferno é isso. Estar condenado a ouvir só o que toca nas rádios.. e só as rádios que pegam por antena..

E este texto já está enorme. A música , me engrandece, me influencia, me modifica, me alimenta, me compreende, me ensina, me dá prazer, me cura, me embala, me dá colo, me dá papo, me dá colo, salva minha vida.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sobre liberdade

Agora que eu resolvi ter um blog/ fan page parece simplesmente que não me sai nada bom na escrita. É sempre assim,a gente se compromete a fazer algo e aquilo perde o colorido imediatamente. A obrigação de produzir algo bom e consumível corta o processo criativo. Já vi que escrever de manhã não dá muito certo, uma vez que voltei a dormir bem, sem pesadelos, sem me encolher e ficar toda dolorida. Escrever é um processo muito dolorido se feito sob pressão. Então fecho os olhos e deixo as cores tomarem conta de mim.

Hoje está um dia cinza, nublado, espesso, carregado de coisas que não sei bem o que são. É como se essa massa de umidade presa entre o frio que fica quando a nuvens bloqueiam o sol por muito tempo e a massa de calor que a época do ano insiste em trazer. Como aquele velho costume que se perpetua mesmo sem ter sentido. Havia algo de estranho naquele ar estagnado. Quem sabe fosse a própria estagnação. Era angustiante... aquela dificuldade em enxergar, em conseguir sair das brumas. Era como um parto feito pelo próprio rebento. Uma ave tentando sair do ovo....

Em busca de uma identidade, de uma conexão física com todo aquele turbilhão que acontecia em sua cabeça: a maneira como discordava da massa, da alienação, das roupas uniforme, da ditadura da beleza, de como o mundo todo tinha sido construído sobre bases tão hipócritas e desencontradas, ela resolveu pintar os cabelos. Escolheu a cor proibida - vermelho. Como no filme "A Vila". Vermelho é a cor mais poderosa de todas. Ela pode significar raiva, violência, poder, nobreza, virilidade, agressividade, pecado, sacrifício, sangue... vida. É realmente uma cor transformadora.

O sangue é o veículo do ser humano. Se ele não correr, nossas veias secam, entopem. Nosso coração não bate. Nossos tecidos não são irrigados. Os pulmões param, os rins, o coração, a ereção, o útero e o cérebro param. A visão se extingue e você está preso, preso dentro de si e de sua própria eternidade. Imutável, estático, morto, irreparável, inevolutível.

O sangue carrega nossos sentimentos, o fluido que conduz todos os hormônios responsáveis por nossas sensações e sentimentos. É o sangue que ferve. É o sangue que sela.

Eliminando o vermelho e tudo aquilo que ele representa é o mote do filme. A beleza como é contada a história, a peculiaridade da situação são elementos marcantes. A fotografia belíssima dá um tom sépia, mostrando como aquela comunidade se desenvolveu dentro de um tempo antigo e inerte, como quem fica preso a preceitos que nunca são questionados e ficam ali pra sempre, enrugando, exatamente do mesmo jeito, estagnado. É um relato de uma sociedade que escolhe não arriscar pelo medo da falha, da dor, do sangue, porque isso significa ter que dar um jeito. Significa estar aberto a sentir o que for preciso e evoluir, transcender.

É um filme, assim como outras tanta películas bem feitas, sobre ser você mesmo, sobre choques de realidade,sobre aceitar a vida como ela é, sobre ser forte e corajoso, sobre ser mais do que a massa, ser mais do que te permitem ser. É sobre sair da caverna em que colocara tua mente, te deixado ver apenas uma parcela daquilo que você pode ser, te dando possibilidade somente de ser rebanho, de não experienciar um turbilhão de coisas, de não pintar os cabelos ou a boca ou a pele.  E te deixam dentro do ovo, animal alado, suprimindo tua liberdade, teu ar, acabando com tua habilidade de voar, boicotando qualquer tentativa tua de liberdade. 

Ferve teu sangue, coloca nele toda tua esperança e força, todo teu tesão em ser quem tu és de verdade. Quebra a casca! voa! Sobe ao céu! Olhe o mundo de outro ângulo! És mais livre que um pássaro.




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sobre filhos, doces e escola - um relato-retalho

Era a noite de um dia de semana e saímos para jantar. De quando em quando fazemos isso como prática de nossa sanidade e companheirismo. Conversamos muito, muito mesmo. Nossa mesa sempre parece ser a mais viva: proseamos, damos risada, sorrimos, nossas mãos se tocam, beijos flutuam. Já vi casais mais velhos, daqueles que se casaram por amor, nos olharem e acharem lindo.
Mas há os casais que nos olham e nos reprovam com olhares ferroantes que perguntam onde está nosso filho. ONDE?  E eu não sei como responder, porque aí passei boa parte do tempo fazendo o filho dos outros rirem com minhas caretas, ou a ficarem olhando minhas tatuagens ou o delineador do meu olho (sim, nessa noite a menininha olhava pra mim e em seguida para a mãe e fazia um gesto de traço nos olhos, a boca em biquinho. A mãe me olhou com ódio. Juro que era com ódio- como é que ela ia arranjar tempo de passar delineador, ora bolas?

O que é que vamos fazer? Não teremos produção. Logo meu forninho será extraído e nem por milagre se produzirá algo. Acho que a solução será continuar saindo e rindo com os filhos do outros.
Saindo do mercado no domingo à noite um pai empurra o carrinho com duas sacolinhas dentro e dois piás pendurados. Os meninos riem e dão gritinhos de susto quando o pai freia ou empurra com mais velocidade. Pouco antes de chegar à porta automática ele avisa: olhem! Vamos passar pelo portal. Os garotos estão muito felizes. No asfalto do estacionamento, a alegria continua e sei que esse pai vai chegar e casa alegre, com duas crianças realizadas pela qualidade do tempo que passaram com um homem tão carinhoso e divertido. É um bom pai, um ótimo pai. Penso que deveria ter filmado essa cena para passar nas reuniões de pais, ou na escola mesmo. Porque esse discursinho de “não basta ser pai, tem que participar” me permite uma série de interpretações que não necessariamente envolvam ser amigo ou educar seu filho para o bem de todos. E posso participar sem nem estar aí. Todo mundo já fez isso pelo menos uma vez. Alguns fazem isso em todas as minhas aulas.

Aí entramos no carro. Eu tinha incomodado o Vini – meu marido - durante muito tempo pra comprar os bolinhos Pingüinos (a única coisa brasileira possuidora de trema, um acinte, linguistas!). Abro o pacote. Os bolinhos vêm acomodados em uma forminha plástica, o que me indica fragilidade e, provavelmente um recheio cremosão. Ele me olha “E aí, vai parar de me encher o saco pra comprar isso aí?” Haahhahahahahahahahahaha caio na risada. O bolinho é uma explosão de açúcar. Um melado e tem pouco recheio. “Eu páro.”  Imagino uma criança que come os dois do pacotinho no recreio. Dá um sugar-high nessas crianças e elas CONVERSAM TIPO LOUCAS, CORREM PELA SALA, TE EMPURRAM, GRITAM... fogem da sala. Você está ali sem saber pra onde correr, pensando por que rios escolheu ser professora (alguém tem que ser, né) e um chora porque o coleguinha empolado de açúcar jogou uma borracha na cara dele ou roubou o lápis que ele estava usando. A zoeira não tem limites. Minha alma chora e penso no pai com os meninos no carrinho. Penso se eles comerão um saco de açúcar em forma de bolinho no recreio ou se aquela cena aconteceu por acaso, porque a mãe não quis ir junto. Á sempre uma grande possibilidade de a gente ver um cabelésimo da verdade em uma cena de 2 minutos.  Minha positividade fala mais alto e acredito que os guris vão tomar banho, comer algo que a mãe ficou preparando em casa, vão assistir algum desenho e ser colocados na cama com beijo de boa noite e o lanche da manhã será algo mais saudável.

O carro anda, o som é Racionais. Sob as marquises das ruas escuras vemos um travesti, outra abiga um mendigo ou um pedreiro, não há como saber.  Emicida entra, saímos dessa região da cidade. Vamos  “dar uma banda’, como dizem os gaúchos. Emicida e Elisa Lucinda dialogam sobre a palavra, sobre ter o dom de comunicar, de dizer, “minha palavra tem 1000 cavalos quando eu falo”.. e James Hatfield emenda sua sabedoria, a palavra dele também tem 1000 cavalos. Nos arrepiamos. Eu me consolo e penso que há futuro. Ainda muitas dessas crianças vão ser emicidas, elisas, james... mesmo com a glicose alta e, muito provavelmente, alguma medicação psiquiátrica...




Esse post desconexo foi escrito ao som de: um trecho de Morta Skuld, Pearl Jam, Pantera, Slipknot, NOFX...


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Se isso é ser louco, quero que todo mundo seja!



 Sempre fui chamada de louca.   Sempre sempre sempre.


Durante muitos anos não entendi o porquê dessa denominação. Algumas pessoas se referiam o meu gosto musical, que vai da poesia de Emicida, Criolo, Elisa Lucinda, passando por Leonard Cohen, Pennywise, Metallica, Slipknot, Stoned Jesus, QOTSA e bandas do Josh, bem como bandas do Jack White, rock clássico, punk, mil outras variações, stoner rock, alternativo, HARD CORE, progressive, até uma podreira bem gritada, visceral, dilacerante, libertadora.  
Eu entendo, realmente, que achem estranho uma moça/mulher curtir tanta coisa discrepante e pesada. Somado ao fato de eu não gostar de MPB on a daily basis (eu escuto, acho as letras lindas-algumas-, mas o resto não me cativa, sorry!), tenho pavor de sertanejo, de funk e de rap burro.


Eu não assisto novela. Não adianta me obrigar. Quando vejo, normalmente por dar o azar de estar na casa de outra pessoa, sinto como se estivessem me fazendo uma lobotomia... Mas outro dia falo sobre o que penso de novelas. Eu também não assisto aquela emissora que mata os cérebros dos brasileiros diariamente.


 Eu amo tatuagem. E acho que quem se tatua é corajoso. Primeiro porque a sociedade condena e você vira presidiário desde o momento em que sai do estúdio, embalado em plástico filme, parecendo um pedaço de carne. E isso me leva a pensar em outra coisa: a tatuagem te faz sangrar e sentir dor. Acho que isso nos faz colocar os pés no chão, nos iguala a todo mundo, pois todo mundo sangra exatamente da mesma forma, o sangue é da mesma cor em todos. E a dor se diferencia muito pouco de pessoa para pessoa. Os animais também sangram e também sentem dor. A prática da tatuagem , portanto, me faz igual a todos os animais.


Eu não acredito que a homossexualidade seja uma escolha. Se fosse, não haveria outros animais homossexuais -seja por falta de um dos gêneros, seja por química com um parceiro do mesmo sexo. O peixe-palhaço (Nemo), na falta de fêmeas, troca de sexo para garantir a procriação. Ursos polares foram observados e, mesmo com um número igual de fêmeas e machos numa região, cientistas relataram casos de homossexualidade. Acho que os humanos, por sua vez, têm o poder de amar, de sentir algumas coisas que os animais não podem - não tão articulada e intensamente, a meu ver. Ninguém escolhe quem vai amar, quem vai ser escolhido para dormir de conchinha como se não existisse mais nada no mundo a não ser a sensação de paz e completude. Eu acredito em amor para toda a vida.



Momento tenso agora:  eu não acredito em deus. Eu acredito em pessoas. Pessoas criam religiões, pessoas têm a necessidade de  em algo que as conforte, pessoas fazem guerras, governos, escolas, emissoras de tv, livros. Pessoas ajudam pessoas, pessoas fazem merda, pessoas consertam merdas, pessoas salvam pessoas, pessoas deixam pessoas morrer, pessoas largam os filhos no lixo, pessoas escrevem,pessoas leem bem e pessoas leem muito mal, muitas pessoas não sabem ler, pessoas demais são privadas de conhecimento, pessoas de menos detém o poder, pessoas matam em busca de poder, pessoas criam dogmas, lendas, a culpa a fim de obter poder sobre outras pessoas, pessoas fazem descobertas científicas, pessoas usam essas descobertas para dominar outras pessoas, algumas poucas pessoas encontram a a paz em crer na vida omo um momento de pura existência sem motivo maior, pessoas de mais creem numa existência submissa a um ser a fim de uma recompensa no caso dessa existência não ter pecados ou ter arrependimento, pessoas inventam que sextas-feiras 13 são do capeta., pessoas criam lendas de que gatos pretos dão azar, de que passar sob uma escada dá azar, que mulher menstruada não pode lavar a cabeça, que mulher é inferior ao homem, que todos os homens são infiéis, que toda mulher é fútil... e mais um monte de merda. Isso mesmo: merda.. não, não é merda, porque merda pode virar adubo ou combustível. É lixo. Poque lixo não vira nada de bom.. É como uma sacola plástica suja de cola e restos de coisas não biodegradáveis.

Para mim a existência se justifica por si só. Acredito que existimos porque um dia, uma bolinha no vasto cosmos sofreu o impacto com outro astro e as reações químicas dessa colisão deram origem a elementos químicos, que se combinaram de maneiras infinitas até chegarem ao que somos hoje. Somos feitos exatamente das mesmas coisas, e terra, de poeira estelar, de energia. Somos energia. E nosso dever, como seres, é adquirir conhecimento, respeitar o mundo, sentir, criar coisas para sentir -todo tipo de arte- e dialogar, dialogar, dialogar. E, assim como tudo morre,acredito que o mundo também exista para morrer um dia.


Eu vejo um mundo que ruma para a imbecilização. É tanta coisa transviada. Os heróis de hoje são pessoas que não fazem nada de produtivo, nada engrandecedor, só usam da sua imagem e da comercialização de ideias sem nexo, segregacionista, 'culpativas', que bitolam e delimitam pessoas, as tornando objetos de manipulação, que cimentam o medo, que condenam quem se arrisca, quem é diferente, quem ama de verdade, quem vive sem se culpar, quem dá um passo à frente, quem levanta a mão na sala de aula nem que seja pra fazer uma pergunta 'boba", quem busca por conhecimento, quem quer SER.

Aí eu me dei conta de que eu sou louca porque as pessoas que me julgaram e julgam assim são cegas, alienadas, submissas aos sistemas de poder. 

Mas não se preocupem.Como eu disse, é tanta coisa transviada, tanto dogma, tanto tabu.

Eu sou só mais um tabu.


Esta postagem foi escrita ao som de Ratos de Porão, The Rapture, Hatebreed, Pata de Elefante, Pearl Jam, Eminem, System of a Down, Cripple Bastards, Queens of the Stone Age, Agathocles, Ratos de Porão, Napalm Death, Bad Religion....

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Primavera em mim


O cheiro da Primavera invade meu ser.
Aquele cheiro de plantas recém floradas,
 de pólen, de abelhas trabalhando,
de pássaros saindo de seus ninhos cinzentos
 para colorir meus dias.

A Primavera é a sobremesa,
o cafezinho depois do almoço de domingo,
o picnic no parque ao lado do laguinho,
 a Lua cortejada por Vênus,
o céu estrelado e claro e convidativo.

É o passeio noturno sem mosquitos,
uma manga madura comida em usar talheres,
é um beijo de boa noite, uma massagem nos pés,
um filme com final feliz,
é o prazer de conhecer os nomes das plantas e do pássaros,
é uma tatuagem nova para ficar amando,
é acordar cedo e ver o céu tinto de rosa e coral e amarelo e azul e laranja,
é ler um livro no meio da tarde tomando um suco de bergamota,
é ouvir sua banda preferida como se fosse a primeira vez.

É o café passado de manhã pra ser bebido na varanda,
curtindo a brisa fresquinha passar pelas pernas nuas, como beijos gelados que curam joelhos machucados.

A Primavera é o melhor de mim.

 É minha catarse em choro depois de assistir a um drama,
é meu poder de decisão,
é meu sono mais profundo e tranquilo,
é minha mutação, transgressão, superação,
meu encontro com o cosmos,
é meu dizer "te amo" ao mundo, é dizer a mim mesma ..
é ser quem eu realmente sou.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Um pote para a liberdade

De repente aquela imagem da Dira Paes falando com uma desconhecida no caixa do mercado me salta à mente e penso em quão grandioso é o engodo do Activia e de todas as linhas de laxantes existentes no mundo. É enganar a mulher, mais uma vez, de que ela não pode agir dessa forma.  Há realmente coisas que os homens fazem, mas mulheres não podem fazer. Não é falta de capacidade, é falta de permissão.

Durante toda a existência da humanidade a mulher sofreu. A progenitora, a que carrega vida, a que FAZ vida.... Isso não é um pouco ameaçador? Talvez seja ainda mais se pensarmos no fato de ela ser menor, mais frágil, mais delicada, com um design físico mais curvilíneo, seios, pele macia e fina.... que dualidade! Imagino os homens, nas diferentes décadas e séculos, criando hipóteses sobre toda essa confusão que as mulheres provocam. O humor mutante, a beleza, a sedução, a ira, a prolixidade, a fluidez, as palavras cheias de sentidos amplos....

Quando a gente não sabe como lidar é melhor prender, sujeitar. Não é? Não é assim que teu instinto primitivista te faz agir? O medo, a culpa, o não saber o que vem depois...não te faz agir assim?




Eu entendo tudo isso. Entendo a falta de ação. Entendo os concursos de beleza e a vontade de ser valorizada. Eu entendo ser subjugada por fazer descobertas, se sobressair e não poder ser vista para não afrontar o cérebro maior daqueles que um dia -por pura ignorância- traumatizaram, eternamente, o direito de igualdade. Por que nada vem sem passado, nada vem desacompanhado de sentido.... e as mulheres serão, até o fim, aqueles seres mutilados para não atingirem sua plenitude.

Não dá pra fazer cocô fora de casa. Peidar é feio. Ninguém mais peida, só você, peidorreira! Feia, fedida, suja, nojenta. Onde se viu uma menina, linda assim, pedir para cagar na casa dos outros!?! É pior que falar de sexo.. mas nunca será pior que gostar de sexo.. ou melhor, nunca será pior que dizer que gosta de sexo. Isso é coisa de mulheres da vida. (Que, se pá, até cagam na rua.)



Mas não temam, ladies, há um produto revolucionário, com o qual a sociedade toda se redime por ter te incapacitado de defecar. É só comer um potinho cheio de sabor e ser livre, livre do inchaço, livre dos gases, livre da opressão, livre pra poder relaxar a musculatura pélvica e ser igual a todo mundo, ser normal. Tão normal que dá pra falar sobre esse assunto com uma desconhecida na fila do caixa.






terça-feira, 13 de agosto de 2013

African American culture readings



Das minhas idas ao Sebo Akadêmico, sempre procuro coisas em inglês. Da última vez encontrei dois tesouros sobre o processo de incorporação/modificação/aceitação/reconhecimento do Afro-Americano nos EUA. O primeiro é uma obra prima, base de muitos outos escritos e "must-read" da cultura : 

The Souls of Black Folk, de W.E.B Du Bois, escrito na Georgia em 1903.Estou lendo e amando esse relato pessoal e antropológico.. confesso que linguagem está um tanto difícil, mas faz parte do desafio.


O segundo é de Booker T. Washington: Up from Slavery...




 Ainda não li nada. Para ler ainda mais sobre essa cultura e o processo de pré-conceituação visto a partir dos olhos do negro tenho Autobiography of a Slave, Beloved e The Secret life of bees que Ricardo Buchweitz gentilmente me emprestou há séculos... lerei todos, Rick!