quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Atestados

Você quer ser diferente que eu sei!!!

Você é rebelde. Você acha isso legal.

Por que tu se veste assim?

Tu não vai emagrecer.

Pra quê essas tatuagens? E depois quando você ficar velha? E se sofrer um acidente e estragar o desenho?

Eu duvido que você escute esse tipo de música. É uma barulheira. me irrita, me deixa tonto. E eles nem cantam, só gritam umas coisas nada a ver.


Duvido que se começar um sertanejo você não comece a dançar. Du-vi-do!

Ahh, não!!! É impossível viver sem a globo.. Eu não sei o que faria sem minha novelinha!!!

Tá, daí tu escuta as músicas sem ver a tradução? E tu entende? Como?

Capaz que vai conseguir ver filme sem legenda.... "Daonde", né?

Como assim não vai ter filho? E o sentido da tua vida o que vai ser?

Humm. praia vazia.. é estranho.. não te dá uma sensação de vazio? Eu não gosto. Não sei como você gosta.

Deuzolivre morar no mato. Gosto de gente, de barulho, festa, agito, bebedeira. Tu só pode ser louca de querer essas coisas!

E tu não dá umas escapadinhas às vezes? Vai dizer que não é bom?



Essas são frases que venho ouvindo de todo tipo de pessoa ao longo da minha vida.
Algumas desses pessoas foram só passer-bys, gente que não sei nem o nome.
Outras foram pessoas conhecidas e até amigas.
Mas, não importa a que grupo pertençam as bocas que pronunciaram essas frases.
Quando alguém pronuncia um sentença dessas exclui toda e qualquer possibilidade de admiração minha. E aqueles que a tinham, automaticamente a perdem.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A arte de mudar


Saímos para jantar. Inicialmente não temos rumo. Gostamos disso às vezes pois aproveitamos para dar uma caminhada ou uma volta de carro. Bem, é certo que muitas vezes acabamos tendo uma ideia de algo realmente saboroso, saudável e limpo - coisa difícil de encontrar numa noite de qualquer dia da semana nessa cidade.


Somos muito companheiros hoje. 'Hoje' na frase funciona sintaticamente como advérbio de tempo, pressupondo que antes não o éramos. Concluindo: apliquei bem o advérbio: nos tornamos companheiros ao longo desses 6 anos que nos unem. 

Resolvemos ir a um lugar cheio, frequentado por todo tipo de gente. Noite de estudos antropológicos, o vouyerismo das relações humanas sem ensaio ou fakeness, sem aviso. Um estudo ao natural.  Há muitas famílias, alguns que pressupomos serem somente amigos, outros talvez colgas de trabalho, alguns outcasts se sentindo à vontade (como isso me deixa feliz!) e mais dois casais além de nós. 

Enquanto esperávamos nossa pizza, que surpreendentemente veio rápido e mudava somente o sabor da doce em relação às meninas-que-beijam-meninas ao nosso lado. Nós preferimos banana nevada; elas, morango com chocolate. É, banana não é muito convidativa.... observávamos todos felizes, exceto os casais. 

Estavam sentados em mesas diferentes. Elas olhavam incessantemente para seus celulares,creio que na Internet. Eles olhavam para a tv sem prestar atenção, ou olhavam as mãos, ou olhavam o nada, a mesa vermelha, difundindo o olhar num emaranhado de pixels iguais.

Uma das moças estudou na mesma escola que eu. O Vini me disse que eles não combinavam em nada. Eu repliquei dizendo que não num primeiro olhar, mas que as caras-de-nada deles os transformavam em um casal parecido. O outro casal vez que outra trocava algumas palavras. Eles não se tocavam, não sorriam, não exprimiam nenhuma reação que não  a cara de paisagem, poker faces tristes e vazias.

Talvez eles não sejam assim, mas o retrato daquele jantar me deixou irritada. tinha vontade de ir nas mesas e dizer: conversem um com o outro, se descubram, se apreciem, riam, chorem, mas por favor, interajam!!!!  Há quem diga que isso existe em função da internet móvel. Mas e antes? Ahhh, antes era a tv.. as e antes da tv? Ahh, antes da tv a mulher era a inferior... E antes disso?? Antes eram homens das cavernas???

Não. Nenhuma dessas respostas me cabe. Não consigo conceber nenhuma delas como verdadeira. Temos como verdade de que o ser humano é um ser superior a todos os outros. Estamos no topo da cadeia alimentar, não estamos? Somos os únicos dotados de polegares opositores, não somos? Somente nós somos capazes de pensar de forma complexa, o que garantiu a criação de não só uma, mas inúmeras linguagens e códigos que nos permitem transitar e nos comunicar com qualquer pessoa ao redor do mundo. Então, porque não conversamos com a pessoa que é nossa companheira? Que supostamente nos ama por inteiro  por quem somos, por como somos???? 



Como eu disse antes, fomos mudando aos poucos. Fomos nos aprendendo. Eu fui aprendendo quem eu sou, aprendendo a forma como eu mudo,  forma como me transformo diante das situações que enfrento. Ele foi fazendo o mesmo. E fui aprendendo ele e ela a mim. Um sendo suporte do outro, sempre buscando uma evolução emocional e intelectual. Confesso que minha maior dificuldade foi aprender a conversar, a não ter medo de ser julgada, ou de ser abandonada. Demorei muito tempo, mas aprendi. E esse aprendizado me proporcionou a maior sensação de liberdade que eu já senti.

Antes iniciei esse texto falando de uma amada Gloss - uma jovem revista glam-fútil-interessante-com-swag que acabou falecendo (irônico, não?)- em que a colunista expunha um caso de amor que nasceu de uma amizade. Ela conta que conversava muito com esse cara, falava de seus problemas, de suas vergonhas, de seus medos e de coisas positivas. Ele acabou se apaixonando por ela, pois ela é uma mulher interessante e verdadeira. E ela diz que pode sentir-se amada por inteiro, pois não inventou um passado a fim de ser amada e aceita. E essa é a liberdade que eu acho que todas as pessoas buscam: a liberdade de ser você mesmo.
Acho que não só os casais, mas as pessoas todas num geral deveriam repesar em todas as suas relações, em qual o valor de um julgamento, ou quanto pesa para si ser quem se é de verdade. Porque dói manter uma imagem que não reflete o real. Não é como Macabéa, privada de se descobrir, privada de existir, privada por alienados. É a própria privação. É o encarceramento de um potencial imensurável, pois jamais será explorado. É como arrancar os próprios lhos, como deixar todos os dias passarem sem ter vivido.

Acho que não só os casais, mas as pessoas todas num geral deveriam repesar em todas as suas relações, em qual o valor de um julgamento, ou quanto pesa para si ser quem se é de verdade. Porque dói manter uma imagem que não reflete o real. Não é como Macabéa, privada de se descobrir, privada de existir, privada por alienados. É a própria privação. É o encarceramento de um potencial imensurável, pois jamais será explorado. É como arrancar os próprios lhos, como deixar todos os dias passarem sem ter vivido.


Conforme fomos crescendo e nos amando cada vez mais, depois de extensas brigas e discussões, choro e desespero, descobrimos qe podemos ser quem somos um para o outro. a vida é uma só - eu sempre digo-, mas então por que raios eu não aproveitava essa vida? Por que eu insistia em ser quem eu achava que ele queria que eu fosse? Por que não falava quando algo me perturbava???  Eu sempre fui a amiga psicóloga, a amiga que não julga, mas ajuda.... Por que eu não conseguia ser assim? Eu não tinha segurança? Eu não sei exatamente como, mas eu mudei. Eu mudei para algo de que me orgulho, algo que amo, que me deixa tranquila. Não tenho mais nóias, nem ciúmes sem pé nem cabeça.


A beleza da vida está na mudança. A capacidade de compreender e apreender o novo é o segredo. Não sei.o que seria de mim se eu não mudasse, se tivesse permsnecido sempre com a mesma ideia do mundo, ou pior: com a mesma ideia de mim mesma. Seria como morrer e continuar vivendo. Afinal, a vida trata de nascimentos, especialmente daqueles de nós por nós mesmos. 

Tenha coragem.Afinal, a vida é uma só. 








[Esse texto foi escrito ao som de: nenhuma música- somente o silêncio interno e os grilos do terrenos baldio ao lado - paz]