sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Feliz dia dos professores

Noite passada fui a um evento destinado à minha classe. Bom, vamos começar pelo princípio: como assim classe? Classe operária? Classe de classudo? Classe de turma? Acho que temos que parar com essa denominação, porque, claramente, nós como educadores, não devemos generalizar, mas ter um olhar único sobre cada um de nossos alunos, simplesmente pelo fato de eles serem indivíduos únicos, cada um co sua bagagem, seu talentos e dificuldades. Muitos professores não têm classe nenhuma: ou tem a mente fechada, ou são daqueles que dizem que o problema da compreensão de um aluno em entender qualquer questão (de qualquer matéria) é do professor de Língua Portuguesa - convenhamos: burro esse professor que não ensinou seu aluno a interpretar suas próprias questões!!! - Outros não tem classe porque são os julgadores... julgam tudo nos colegas: suas práticas, sua maneira de vestir, sua fala... e cometem erros crassos em suas próprias salas de aula. E, finalmente, não somos classe- turma pois somos diferentes. Nosso background é diferente, nossas gerações são diferentes, nossas crenças quanto a ensino e aprendizagem são diferentes, nossos interesses, nossas vontades, nossa criança interior, nossos laços, nossa maneira de ver o mundo... temos nossa classe no meio de tantos, mas não somos todos uma classe.  Acho que esse é um erro também, da nossa configuração escolar.... mas isso é tema para um texto mais adiante, mais extenso e ainda cheio de duvidas.

Mas continuando ao que eu estava querendo falar sobre: a palestra de ontem. Enquanto a professora falava, dava exemplos e dizia que não devemos simplesmente ensinar a fazer. Isso na verdade é habilidade. Mas que devemos ensinar competência,ou seja, saber fazer. Eu olhava em volta e via meus professores do IMD, hoje colegas de trabalho, e pensava em como eu tive a sorte de ter tantos bons mestres. Ao meu lado sentavam duas professoras, uma de Ciências e outra de História e, na fileira atrás ma de Matemática. Foram minhas professoras pela primeira vez na quarta e sétima série. Lembro das aulas delas, lembro do que diziam e de onde nos levavam, lembro dos mapas, dos desenhos no quadro, das brincadeiras, das músicas... da voz delas falando comigo. Espalhados pelo auditório havia mais professores meus: de Ed. Física, Ensino Religioso (as manhãs de formação, falando sobre o bem viver entre as pessoas, sempre em algum lugar junto à natureza e com lanche comunitário!) , Informática, Sociologia, Geografia (ah, como eu lembro das aulas de campo! Como me instigaram e me fizeram feliz), Literatura (com muita cantoria, leitura)..... não vi muitos dos meus profs, mas vejo alguns diariamente nas escolas em que sou professora, ou nos conselhos de classe, ou nas reuniões pedagógicas. E fico pensando que, com a exceção de poucos, tive guias que me ajudaram a ter competência. Me ajudaram a ser uma pessoa mais ampla e completa pois me ensinaram sobre mim mesma, me mostraram suas paixões e me deixaram escolher as minhas.


A professora palestrante falou algo muito importante: os alunos não são filhos nossos, mas da escola. É verdade. O tempo livre que andei pelo Menino Deus me transformou também. Poder ir sozinha à biblioteca e sentar no chão, entre as estantes e poder escolher o livro que eu quisesse, no meu tempo, sem alguém me apressando fez toda a diferença... ou ficar lá lendo, sozinha.. Ahh!!! Delícia.. Ou ir no pátio interno, no orquidário do Pe. Oscar, ver os porquinhos da índia, as galinhas, os coelhos... Na minha época era proibido ir lá. Mas eu ia, não porque não podia, mas porque encontrava paz, sossego, calma para minha cabeça. minha sala era cheia de conversadores (eu inclusive). O IMD é mágico também por causa do mato. Eu ia pro mato no turno inverso, comia frutas silvestres, achava umas borboletas gigantes, via uns bichos, curtia o cheiro da vegetação, a luz do sol passando por entre as árvores. No 3º ano tive uma colga intercambista da Alemanha.. a gente matou aula um da nesse mato, o Padre foi atrás de nós. Rimos muito!!!! Eu também ia de tarde comer jabuticaba. Me sujava de barro, de suco de jabuticaba e de cachorro, porque brincava com os da escola.... nossa, era uma aventura atrás da outra... são incontáveis causos....

E pensando em tudo isso, somado às pessoas que fizeram parte disso, desde as tias da limpeza, as tias do bar, os funcionários e professores, sei que minha formação foi completa porque, acima de tudo, foi humana. Nunca fui barrada de dizer minhas opiniões. Nunca fui barrada de fazer perguntas, por mais idiotas que pudessem ser. Sempre fui incentivada a explorar minha criatividade e a fazer coisas novas. Sempre fui tratada de forma única e com muito carinho, atenção e respeito.


É claro que não posso, erroneamente, dar glórias somente à minha escola de criação. Ela fez parte da fase mais intensa de aprendizado da minha vida. Minhas professoras do pré à 3ª série me ensinaram com precisão e beleza. As e os profs de ensino fundamental me instigaram muito e os de ensino médio me fizeram descobrir quem era e quem queria ser. A faculdade me trouxe um insight mais intenso, numa busca sobre o que realmente me interessava para a vida. Acontece que não... não é só a língua que me interessa... e isso é culpa da escola, que me tornou um diamante multifacetado e plural, sempre em busca de mais e mais, cheio de interesses sobre diversas coisas. Na faculdade pude descobrir um outro lado meu e um outro lado do que significa ser professor.

Descobri que professores são pessoas comuns, que trabalham muito em prol de um mundo habitado por pessoas mais inteligentes, capacitadas, interessantes, multifacetadas e plurais, pessoas que saibam ler o mundo de diversas formas, de diversos ângulos.   Depois comecei a trabalhar de verdade e tive a oportunidade de conhecer colegas maravilhosas, com muito a ensinar a mim e a todos. Aprendi e continuo aprendendo muito com meus antigos e novos colegas e professores.

Neste dia que comemora nossa existência, quero dar graças a todos os professores e professoras que passaram neste mundo e ainda vão passar para tocar a alma de pelo menos um ser humano e, assim, transformar o mundo. Porque acredito que o que nos move é o saber, é o conhecer, o compreender tudo que nos for tangível, seja de forma física, psíquica, emocional, de comunicação ou de qualquer outra forma de interação. E é necessário muito amor para ensinar isso aos outros. Obrigada a todos os que me ensinaram algo e me constituíram até o presente momento. Obrigada por compartilharem esse amor.


Feliz dia a todos, por mais que não sejam professores de profissão, mas sejam por natureza.

Feliz dia dos professores!





sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Just push play

Eu AMO música. Amo. Não há nenhuma expressão artística que se compare à música. Me desculpem. Eu mesma fiz meu TCC da graduação em leitura... devia ter feito sobre a leitura de músicas. Acho que teria me decepcionado.

A música é a união de uma letra bem construída devidamente ritmada por guitarras, baixo, bateria e uma boa voz. Outros elementos sonoros são bem vindos, desde que toquem tua alma, pulsação, frequência cerebral e teu humor, é claro. você precisa estar conectado ao que a música te passa, de uma certa forma. Não há como ouvir Rockabilly se eu não estiver faceira, acelerada... nem como ouvir Johnny Cash se eu não estiver levemente melancólica. É impossível. A música expande a tua percepção, te abre para teu inconsciente.

Devo agradecer aos meus pais e minha tia pela abrangência de gostos. Meu pai é viciado em rádio. Desde pequena ouvia a rádios de outros países e conheci muitas bandas. Lembro de o pai ir me levar na aula de inglês e pararmos em frente a um prédio onde pegava uma rádio do Japão, se não me engano.. A gente ia mais cedo para ficar ouvindo um pouquinho. Nas viagens de carro ele levava cds com mp3 - era incrivelmente possível colocar 300 faixas... naquela época antes do pendrive e dos cartões.

Minha mãe gostava de ouvir umas músicas mais doidas, mais deprês ou diferentes. ela gosta de peso também. Limpava a casa ao som de Pink Floyd, Midnight Oil, Blonde, um cd que roubei dela com a trilha de Foxfire. Ela curtia trilhas de filmes.

Minha tia tinha Nina Haeggen, música peruana, Fado, Miles Davis, a trilha de Filadélfia - que me deixava triste, mas confiante no meu inglês, Ace of Base- que debulhei fazendo coreografias e cantando!- e mais uma infinidade músicos de Jazz, Blues  músicas típicas de outros países.

E teve o que eu fui descobrindo com amigos, gente da inernet,do mirc, do ICQ, das redes sociais, de pesquisar no Google, nas sugestões do Youtube. E o Vini, que me tirou os preconceitos musicais, me ajudando a refinar.

Eu acho que música tem capacidade de te transformar de uma forma mais ampla que só a leitura. A música entra, abrange mais sentidos, é como se teu corpo todo estivesse infuso em sons e sentimentos e sensações. Tudo se aguça, tudo se torna perceptível. Além de que a música exige que sejam feitas leituras não somente da letra, mas dos instrumentos. Conseguir captar o som de cada instrumento é uma arte. Quando comecei a me dar conta de que eu conseguia isso ouvia umas 10 vezes o meso som, mas cada vez prestando atenção em elementos diferentes.... o baixo era sempre o mais difícil.. Teve uma época em que quis ser baixista.. mas meus dedo não servem para trocar nenhum instrumento... sou muito discordenada.

Outro aspecto interessante da música é o vídeo... sempre lembro do documentário "Video killed the Radio" (sugiro) em que é possível ver como a indústria fonográfica teve de mudar "to amp this feature"...Ninguém sabia na real o que era fazer um vídeo que combinasse com  música.. Aí foram fazendo de tudo. Ahh os clipes de Metal que passavam a partir das 4 da madruga na MTV. sucessooo!!! Hoje os vídeos são bem produzidos.. não só em questões tecnológicas, mas em conteúdo, em figuras de linguagem, no uso de luz e sombra, na atuação da banda e dos atores. O vídeo virou um filme curto. E precisa ser compreendido no contexto com a música e todos os seus elementos escritos, não escritos, sonoros e vibratórios..

Um dia um aluno me perguntou se eu prestava atenção na letra de todas as músicas que eu ouvia.. e se eu traduzia tudo... tipo, se eu ia catar a letra, traduzir, ou catar a tradução... Pois bem.. não, eu não presto atenção na letra de tudo que eu escuto. Uma porque eu escuto todo dia muita coisa, segundo porque tem estilos musicais em que não é possível entender a letra. Mas procuro entender as letras das de vocal mais claro. E aí vem a questão de como a música me ensinou sobre línguas: comecei a aprender inglês formalmente aos 5 anos de idade. tinha professor que ia em casa.. eu gostava, eu amava. Não foi algo orçado, uma vez que eu sentava no colo da tia pra ouvir ela fazer os homeworks desde os meus 3 aninhos. Quando comecei a ouvir música que não fosse de apresentadora de programa infantil eu já tinha uma certa compreensão auditiva e um certo vocabulário. então eu traduzia só as partes que eu não compreendia.. e assim fui só agregando conhecimento linguístico. eu decorava as músicas e ficava cantando na janela de vidro espelhado.. numa parte da grade era possível eu enxergar somente minha boca..e eu me puxava na pronúncia... Eu nunca parei de aprender novas palavras, gírias, regionalismos e tudo mais que pode conter uma música... aprendi espanhol com a Shakira...pelo menos um pouquinho.. depois parei de ouvir músicas em espanhol...

A música me trata e me salva e me cura como nenhum outro remédio. Às vezes preciso de altas doses de uma banda ou estilo, como um antibiótico, cujo tratamento não deve durar menos de 5 dias. às vezes é só uma música... só pra dar aquele gostinho, saciar...uma sobremesa.

Eu vivo de música mais do que de qualquer coisa. Se eu dormir tarde é porque fiquei no Youtube num incessante "videoroulette" (ou seria "soundroulette")... Fuciona da seguinte forma:

  1. 1- abra um vídeo de uma banda conhecida, mas sem digitar o nome da banda na busca... melhor pegar das sugestões..  e tem que ser de um tipo de música que você esteja a fim de ouvir.. 
  2. Vá nas sugestões à direita da tela e, sem olhar, clique em um vídeo.
  3. Não olhe o clipe. Primeiro ouça a intro. Vale a pena? Continue até chegar o vocal.
  4. Se o vocal não de certo, clique em outro vídeo da lista à direita, repetindo os passos 2 e 3.
  5. Se o vocal der certo, veja o vídeo.
  6. Se o video der certo, faça uma playlist no se canal.

Conheci umas 40 bandas assim, nos últimos meses.. Passei a assinar canais e recebo sugestões diárias de sons. Internet!!!Internet saved my ears. Imagina se hoje só existisse rádio e eu fosse condenada a ouvir só o que toca comercialmente.., Nossa.. se há um inferno é isso. Estar condenado a ouvir só o que toca nas rádios.. e só as rádios que pegam por antena..

E este texto já está enorme. A música , me engrandece, me influencia, me modifica, me alimenta, me compreende, me ensina, me dá prazer, me cura, me embala, me dá colo, me dá papo, me dá colo, salva minha vida.