segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sobre liberdade

Agora que eu resolvi ter um blog/ fan page parece simplesmente que não me sai nada bom na escrita. É sempre assim,a gente se compromete a fazer algo e aquilo perde o colorido imediatamente. A obrigação de produzir algo bom e consumível corta o processo criativo. Já vi que escrever de manhã não dá muito certo, uma vez que voltei a dormir bem, sem pesadelos, sem me encolher e ficar toda dolorida. Escrever é um processo muito dolorido se feito sob pressão. Então fecho os olhos e deixo as cores tomarem conta de mim.

Hoje está um dia cinza, nublado, espesso, carregado de coisas que não sei bem o que são. É como se essa massa de umidade presa entre o frio que fica quando a nuvens bloqueiam o sol por muito tempo e a massa de calor que a época do ano insiste em trazer. Como aquele velho costume que se perpetua mesmo sem ter sentido. Havia algo de estranho naquele ar estagnado. Quem sabe fosse a própria estagnação. Era angustiante... aquela dificuldade em enxergar, em conseguir sair das brumas. Era como um parto feito pelo próprio rebento. Uma ave tentando sair do ovo....

Em busca de uma identidade, de uma conexão física com todo aquele turbilhão que acontecia em sua cabeça: a maneira como discordava da massa, da alienação, das roupas uniforme, da ditadura da beleza, de como o mundo todo tinha sido construído sobre bases tão hipócritas e desencontradas, ela resolveu pintar os cabelos. Escolheu a cor proibida - vermelho. Como no filme "A Vila". Vermelho é a cor mais poderosa de todas. Ela pode significar raiva, violência, poder, nobreza, virilidade, agressividade, pecado, sacrifício, sangue... vida. É realmente uma cor transformadora.

O sangue é o veículo do ser humano. Se ele não correr, nossas veias secam, entopem. Nosso coração não bate. Nossos tecidos não são irrigados. Os pulmões param, os rins, o coração, a ereção, o útero e o cérebro param. A visão se extingue e você está preso, preso dentro de si e de sua própria eternidade. Imutável, estático, morto, irreparável, inevolutível.

O sangue carrega nossos sentimentos, o fluido que conduz todos os hormônios responsáveis por nossas sensações e sentimentos. É o sangue que ferve. É o sangue que sela.

Eliminando o vermelho e tudo aquilo que ele representa é o mote do filme. A beleza como é contada a história, a peculiaridade da situação são elementos marcantes. A fotografia belíssima dá um tom sépia, mostrando como aquela comunidade se desenvolveu dentro de um tempo antigo e inerte, como quem fica preso a preceitos que nunca são questionados e ficam ali pra sempre, enrugando, exatamente do mesmo jeito, estagnado. É um relato de uma sociedade que escolhe não arriscar pelo medo da falha, da dor, do sangue, porque isso significa ter que dar um jeito. Significa estar aberto a sentir o que for preciso e evoluir, transcender.

É um filme, assim como outras tanta películas bem feitas, sobre ser você mesmo, sobre choques de realidade,sobre aceitar a vida como ela é, sobre ser forte e corajoso, sobre ser mais do que a massa, ser mais do que te permitem ser. É sobre sair da caverna em que colocara tua mente, te deixado ver apenas uma parcela daquilo que você pode ser, te dando possibilidade somente de ser rebanho, de não experienciar um turbilhão de coisas, de não pintar os cabelos ou a boca ou a pele.  E te deixam dentro do ovo, animal alado, suprimindo tua liberdade, teu ar, acabando com tua habilidade de voar, boicotando qualquer tentativa tua de liberdade. 

Ferve teu sangue, coloca nele toda tua esperança e força, todo teu tesão em ser quem tu és de verdade. Quebra a casca! voa! Sobe ao céu! Olhe o mundo de outro ângulo! És mais livre que um pássaro.




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sobre filhos, doces e escola - um relato-retalho

Era a noite de um dia de semana e saímos para jantar. De quando em quando fazemos isso como prática de nossa sanidade e companheirismo. Conversamos muito, muito mesmo. Nossa mesa sempre parece ser a mais viva: proseamos, damos risada, sorrimos, nossas mãos se tocam, beijos flutuam. Já vi casais mais velhos, daqueles que se casaram por amor, nos olharem e acharem lindo.
Mas há os casais que nos olham e nos reprovam com olhares ferroantes que perguntam onde está nosso filho. ONDE?  E eu não sei como responder, porque aí passei boa parte do tempo fazendo o filho dos outros rirem com minhas caretas, ou a ficarem olhando minhas tatuagens ou o delineador do meu olho (sim, nessa noite a menininha olhava pra mim e em seguida para a mãe e fazia um gesto de traço nos olhos, a boca em biquinho. A mãe me olhou com ódio. Juro que era com ódio- como é que ela ia arranjar tempo de passar delineador, ora bolas?

O que é que vamos fazer? Não teremos produção. Logo meu forninho será extraído e nem por milagre se produzirá algo. Acho que a solução será continuar saindo e rindo com os filhos do outros.
Saindo do mercado no domingo à noite um pai empurra o carrinho com duas sacolinhas dentro e dois piás pendurados. Os meninos riem e dão gritinhos de susto quando o pai freia ou empurra com mais velocidade. Pouco antes de chegar à porta automática ele avisa: olhem! Vamos passar pelo portal. Os garotos estão muito felizes. No asfalto do estacionamento, a alegria continua e sei que esse pai vai chegar e casa alegre, com duas crianças realizadas pela qualidade do tempo que passaram com um homem tão carinhoso e divertido. É um bom pai, um ótimo pai. Penso que deveria ter filmado essa cena para passar nas reuniões de pais, ou na escola mesmo. Porque esse discursinho de “não basta ser pai, tem que participar” me permite uma série de interpretações que não necessariamente envolvam ser amigo ou educar seu filho para o bem de todos. E posso participar sem nem estar aí. Todo mundo já fez isso pelo menos uma vez. Alguns fazem isso em todas as minhas aulas.

Aí entramos no carro. Eu tinha incomodado o Vini – meu marido - durante muito tempo pra comprar os bolinhos Pingüinos (a única coisa brasileira possuidora de trema, um acinte, linguistas!). Abro o pacote. Os bolinhos vêm acomodados em uma forminha plástica, o que me indica fragilidade e, provavelmente um recheio cremosão. Ele me olha “E aí, vai parar de me encher o saco pra comprar isso aí?” Haahhahahahahahahahahaha caio na risada. O bolinho é uma explosão de açúcar. Um melado e tem pouco recheio. “Eu páro.”  Imagino uma criança que come os dois do pacotinho no recreio. Dá um sugar-high nessas crianças e elas CONVERSAM TIPO LOUCAS, CORREM PELA SALA, TE EMPURRAM, GRITAM... fogem da sala. Você está ali sem saber pra onde correr, pensando por que rios escolheu ser professora (alguém tem que ser, né) e um chora porque o coleguinha empolado de açúcar jogou uma borracha na cara dele ou roubou o lápis que ele estava usando. A zoeira não tem limites. Minha alma chora e penso no pai com os meninos no carrinho. Penso se eles comerão um saco de açúcar em forma de bolinho no recreio ou se aquela cena aconteceu por acaso, porque a mãe não quis ir junto. Á sempre uma grande possibilidade de a gente ver um cabelésimo da verdade em uma cena de 2 minutos.  Minha positividade fala mais alto e acredito que os guris vão tomar banho, comer algo que a mãe ficou preparando em casa, vão assistir algum desenho e ser colocados na cama com beijo de boa noite e o lanche da manhã será algo mais saudável.

O carro anda, o som é Racionais. Sob as marquises das ruas escuras vemos um travesti, outra abiga um mendigo ou um pedreiro, não há como saber.  Emicida entra, saímos dessa região da cidade. Vamos  “dar uma banda’, como dizem os gaúchos. Emicida e Elisa Lucinda dialogam sobre a palavra, sobre ter o dom de comunicar, de dizer, “minha palavra tem 1000 cavalos quando eu falo”.. e James Hatfield emenda sua sabedoria, a palavra dele também tem 1000 cavalos. Nos arrepiamos. Eu me consolo e penso que há futuro. Ainda muitas dessas crianças vão ser emicidas, elisas, james... mesmo com a glicose alta e, muito provavelmente, alguma medicação psiquiátrica...




Esse post desconexo foi escrito ao som de: um trecho de Morta Skuld, Pearl Jam, Pantera, Slipknot, NOFX...


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Se isso é ser louco, quero que todo mundo seja!



 Sempre fui chamada de louca.   Sempre sempre sempre.


Durante muitos anos não entendi o porquê dessa denominação. Algumas pessoas se referiam o meu gosto musical, que vai da poesia de Emicida, Criolo, Elisa Lucinda, passando por Leonard Cohen, Pennywise, Metallica, Slipknot, Stoned Jesus, QOTSA e bandas do Josh, bem como bandas do Jack White, rock clássico, punk, mil outras variações, stoner rock, alternativo, HARD CORE, progressive, até uma podreira bem gritada, visceral, dilacerante, libertadora.  
Eu entendo, realmente, que achem estranho uma moça/mulher curtir tanta coisa discrepante e pesada. Somado ao fato de eu não gostar de MPB on a daily basis (eu escuto, acho as letras lindas-algumas-, mas o resto não me cativa, sorry!), tenho pavor de sertanejo, de funk e de rap burro.


Eu não assisto novela. Não adianta me obrigar. Quando vejo, normalmente por dar o azar de estar na casa de outra pessoa, sinto como se estivessem me fazendo uma lobotomia... Mas outro dia falo sobre o que penso de novelas. Eu também não assisto aquela emissora que mata os cérebros dos brasileiros diariamente.


 Eu amo tatuagem. E acho que quem se tatua é corajoso. Primeiro porque a sociedade condena e você vira presidiário desde o momento em que sai do estúdio, embalado em plástico filme, parecendo um pedaço de carne. E isso me leva a pensar em outra coisa: a tatuagem te faz sangrar e sentir dor. Acho que isso nos faz colocar os pés no chão, nos iguala a todo mundo, pois todo mundo sangra exatamente da mesma forma, o sangue é da mesma cor em todos. E a dor se diferencia muito pouco de pessoa para pessoa. Os animais também sangram e também sentem dor. A prática da tatuagem , portanto, me faz igual a todos os animais.


Eu não acredito que a homossexualidade seja uma escolha. Se fosse, não haveria outros animais homossexuais -seja por falta de um dos gêneros, seja por química com um parceiro do mesmo sexo. O peixe-palhaço (Nemo), na falta de fêmeas, troca de sexo para garantir a procriação. Ursos polares foram observados e, mesmo com um número igual de fêmeas e machos numa região, cientistas relataram casos de homossexualidade. Acho que os humanos, por sua vez, têm o poder de amar, de sentir algumas coisas que os animais não podem - não tão articulada e intensamente, a meu ver. Ninguém escolhe quem vai amar, quem vai ser escolhido para dormir de conchinha como se não existisse mais nada no mundo a não ser a sensação de paz e completude. Eu acredito em amor para toda a vida.



Momento tenso agora:  eu não acredito em deus. Eu acredito em pessoas. Pessoas criam religiões, pessoas têm a necessidade de  em algo que as conforte, pessoas fazem guerras, governos, escolas, emissoras de tv, livros. Pessoas ajudam pessoas, pessoas fazem merda, pessoas consertam merdas, pessoas salvam pessoas, pessoas deixam pessoas morrer, pessoas largam os filhos no lixo, pessoas escrevem,pessoas leem bem e pessoas leem muito mal, muitas pessoas não sabem ler, pessoas demais são privadas de conhecimento, pessoas de menos detém o poder, pessoas matam em busca de poder, pessoas criam dogmas, lendas, a culpa a fim de obter poder sobre outras pessoas, pessoas fazem descobertas científicas, pessoas usam essas descobertas para dominar outras pessoas, algumas poucas pessoas encontram a a paz em crer na vida omo um momento de pura existência sem motivo maior, pessoas de mais creem numa existência submissa a um ser a fim de uma recompensa no caso dessa existência não ter pecados ou ter arrependimento, pessoas inventam que sextas-feiras 13 são do capeta., pessoas criam lendas de que gatos pretos dão azar, de que passar sob uma escada dá azar, que mulher menstruada não pode lavar a cabeça, que mulher é inferior ao homem, que todos os homens são infiéis, que toda mulher é fútil... e mais um monte de merda. Isso mesmo: merda.. não, não é merda, porque merda pode virar adubo ou combustível. É lixo. Poque lixo não vira nada de bom.. É como uma sacola plástica suja de cola e restos de coisas não biodegradáveis.

Para mim a existência se justifica por si só. Acredito que existimos porque um dia, uma bolinha no vasto cosmos sofreu o impacto com outro astro e as reações químicas dessa colisão deram origem a elementos químicos, que se combinaram de maneiras infinitas até chegarem ao que somos hoje. Somos feitos exatamente das mesmas coisas, e terra, de poeira estelar, de energia. Somos energia. E nosso dever, como seres, é adquirir conhecimento, respeitar o mundo, sentir, criar coisas para sentir -todo tipo de arte- e dialogar, dialogar, dialogar. E, assim como tudo morre,acredito que o mundo também exista para morrer um dia.


Eu vejo um mundo que ruma para a imbecilização. É tanta coisa transviada. Os heróis de hoje são pessoas que não fazem nada de produtivo, nada engrandecedor, só usam da sua imagem e da comercialização de ideias sem nexo, segregacionista, 'culpativas', que bitolam e delimitam pessoas, as tornando objetos de manipulação, que cimentam o medo, que condenam quem se arrisca, quem é diferente, quem ama de verdade, quem vive sem se culpar, quem dá um passo à frente, quem levanta a mão na sala de aula nem que seja pra fazer uma pergunta 'boba", quem busca por conhecimento, quem quer SER.

Aí eu me dei conta de que eu sou louca porque as pessoas que me julgaram e julgam assim são cegas, alienadas, submissas aos sistemas de poder. 

Mas não se preocupem.Como eu disse, é tanta coisa transviada, tanto dogma, tanto tabu.

Eu sou só mais um tabu.


Esta postagem foi escrita ao som de Ratos de Porão, The Rapture, Hatebreed, Pata de Elefante, Pearl Jam, Eminem, System of a Down, Cripple Bastards, Queens of the Stone Age, Agathocles, Ratos de Porão, Napalm Death, Bad Religion....

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Primavera em mim


O cheiro da Primavera invade meu ser.
Aquele cheiro de plantas recém floradas,
 de pólen, de abelhas trabalhando,
de pássaros saindo de seus ninhos cinzentos
 para colorir meus dias.

A Primavera é a sobremesa,
o cafezinho depois do almoço de domingo,
o picnic no parque ao lado do laguinho,
 a Lua cortejada por Vênus,
o céu estrelado e claro e convidativo.

É o passeio noturno sem mosquitos,
uma manga madura comida em usar talheres,
é um beijo de boa noite, uma massagem nos pés,
um filme com final feliz,
é o prazer de conhecer os nomes das plantas e do pássaros,
é uma tatuagem nova para ficar amando,
é acordar cedo e ver o céu tinto de rosa e coral e amarelo e azul e laranja,
é ler um livro no meio da tarde tomando um suco de bergamota,
é ouvir sua banda preferida como se fosse a primeira vez.

É o café passado de manhã pra ser bebido na varanda,
curtindo a brisa fresquinha passar pelas pernas nuas, como beijos gelados que curam joelhos machucados.

A Primavera é o melhor de mim.

 É minha catarse em choro depois de assistir a um drama,
é meu poder de decisão,
é meu sono mais profundo e tranquilo,
é minha mutação, transgressão, superação,
meu encontro com o cosmos,
é meu dizer "te amo" ao mundo, é dizer a mim mesma ..
é ser quem eu realmente sou.