sexta-feira, 23 de julho de 2010

Confiança

          A confiança, dirão alguns, é abstrata. É abstrata porque não podemos tocá-la com as mãos, sentindo seu peso e seu toque delicado de seda. 

          Saio com as minhas amigas de quando em quando. Na maioria das vezes vamos para um lugar em que encontramos poucos conhecidos, o que nos dá segurança para poder falar tudo aquilo que só podemos dizer entre amigos. Mas às vezes vou parar no Batatas, um lugarzinho charmoso na principal rua noturna da cidade, e lá encontro mais duzentos amigos e outros tantos conhecidos, desconhecidos, estranhos e bizarros, enttre outras classes de seres humanos. Acontece que entre os conhecidos acabo ouvindo um afiado "cadê o namorado?" e respondo sem rodeios com um "tá em casa, tá na aula, whatever." Aqueles que não me conhecem, pelo fato de me verem desacompanhada de um homem, pressupõem que eu sou solteira. Não sou. Ao contrário: dei sorte de achar um homem que confia em mim. Quantos casais na faixa dos 20-30 anos você conhece que vivem sob a política da confiança? Eu posso contar nos dedos.

          Sem dúvida eu escuto cantadas, recebo elogios, olhares. Eu sei que o meu namorado também passa por isso. E eu não me importo. Tem até, às vezes, algum louco que elogia meu batom vermelho ou vem falar da florzinha que eu faço com a língua, demonstração ingênua da minha parte, normalmente porque algum outro louco resolveu mostrar seus dotes artístico-corporais como mexer a orelha ou ficar vesgo de um olho só. 

          Mas não é por isso, nem por mil outras coisas que eu vou deixar de lado o que eu sinto em troca do instantâneo e descartável que são essas relações engatilhadas por míseras afinidades, ou risadas compartilhadas ou massagens no ego. Porque confiança não é o simples fato de acreditar que o outro vai te respeitar porque te ama, amém. Confiança é um negócio difícil de se conseguir pois não basta unicamente amar para que ela exista. Ela deriva de um processo amor-convivência-respeito-diálogo-convenções-lealdade-caráter, principalmente caráter.

          Então, se um dia você vir a conhecer uma pessoa com quem você acha que vale a pena namorar, confira se ela tem as qualidades que a construção da confiança exige. Se não... I'm sorry! Valores do século retrasado ou insegurança não combinam com a era pós-moderninha. Bom diálogo e um desejo de uma bela edificação pra você!

The best feeling ever

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sobreviventes do Holocausto

Polêmicas à parte, sou uma pessoa que admira os que lutam e vencem, provando que somos seres capazes de tudo.
Lendo o Kibe Loco, encontrei esse vídeo bem humorado de uma famíla de 3 gerações que sobreviveu ao Holocausto:


Nesse momento Hitler se revira no túmulo!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

#2 Hoje está um dia morto, mas não completamente.

(08/12/10)-deve estar errada a data




É a segunda vez que leio Hoje está um dia morto do André de Leones. E é a segunda vez que fico embasbacada. Caio dura, morta cheia de mosca no chão. Sabe? Dá uma puta vontade de mandar tudo à merda.
Penso em ouvir uma música enquanto lavo a louça acumulada. Mas quero só ouvir o som do silêncio. Em algum apartamento do prédio ouvem uma rádio. Me lembra a empregada do livro, da do Veríssimo, em O Jardim do diabo, e a empregada da minha antiga casa. Tento chorar, mas não consigo. Meto as luvas nas mãos grandes, que meus pais me deram, e começo a lavar. Uma formiga surgida da puta-que-pariu, struggling for her life [1]no meio da espuma, tenta subir pelo pano da pia. Não sei a troco do quê sempre tento salvar os insetos. Tiro a coitada dali e largo no marco da janela que fica sobre a bancada. Vai espuma junto e a formiga se enfia naquilo, como um suicida tresloucado. Afogo ela, a fim de limpar a toxicidade. Acho que matei a infeliz. Assopro pra tirar a água. Ela se mexe e começa a subir pelo metal. Pára e alisa as antenas. Uma foi cortada ao meio em algum momento de sua vida insética.
E ela sobe, dando voltas, ziquezagueando. Toda formiga sobe. Deve ser em busca de achar o topo do formigueiro, pra poder descer e viver uma vida humana. Maldito Esopo e sua formiga. A gente começou, depois desse cara, a só pensar e trabalhar e correria e aí o mundo começou a morrer. Mas a culpa é nossa e não do Esopo.
Continuo embasbacada com o livro.  A máquina de lavar gira Mary-go-round. Não estou plagiando o estilo do autor. Sofro (ou não, acho que tenho apenas, não sofro) dessa coisa de não lembrar de palavras em português... diariamente, na fala.. fico com medo de me acharem metida ao mesmo tempo em que penso  who cares?, mas faço um esforço para lembrar da maldita palavra, ou peço ajuda a alguém que saiba do meu acometimento.
Eu sei que me identifico com esse livro, com Jean e Fabiana, com essa morte do mundo e dos seres que nele habitam. Sou professora nesses meus 23 míseros anos. E ainda por cima teacher of English num país que prefere ficar se autoafirmando terceiro mundo from hell porque o ensino é uma palhaçada e fazem humor de toda sua própria desgraça. Isso me enoja. Mas aí eu vou lutar pra quê? Pois tem horas que ser professor é perceber que se escolheu a pior profissão do mundo porque a maioria dos alunos já sofre desse mal do fim do mundo porque foram criados por pais doentes da vida sem perspectiva de futuro. A alegria está morta há tempos.
Ao mesmo tempo em que tenho medo que a profecia dos maias, chapados até por dentro dos olhos, de que e 2012 cest fini le monde, penso que podia ser uma boa. É, se eu fosse sozinha (sem família, amor e amigos, diga-se) eu ia dar boas gargalhadas vendo a Terra se consumir e voltar ao pó, com lágrimas escorrendo pelas bochechas saltadas em riso. Lágrimas de saber que a humanidade teve poucos humanos, muitos monstros e hundreds of thousands de seres automatizados à autodestruição. E agora, na TV, agora que faltam 2 aninhos para a profecia do the fucking end of the world, o povo todo quer reverter estragos, como num pedido de perdão ao mundo por não ter cuidado devidamente dele. É uma piada! Humor de quinta, o caos.
            Sabe todos esses caos que já aconteceram? Chernobyl, Holocausto, Hiroshima e Nagasaki, Titanic, Boing 747, enchente, guerras, desastres nucleares, Sodoma e Gomorra, o dilúvio divino, a maçã...? Tudo isso está acontecendo agora, hoje, agorinha mesmo enquanto você toma seu cafezinho e faz as cruzadinhas do jornal empapado de sangue de humanos e dos automatizados. Porque monstros... Monstros só morrem quando perdem a luta contra outros monstros mais poderosos.


[1] Lutando “bravamente” por sua vida.