domingo, 27 de junho de 2010

#10 Cheiros

           Entro em casa depois de um dia exaustivo e desconexo de sentidos de finalidade. O cheiro que vem do banheiro não é mais de mijo velho, apenas. Agora sobe um cheiro de merda. Fico pensando se isso só acontece meu modesto apartamento de um quarto porque algo deve ter de errado na privada ou se em todos os outros sobe o mesmo cheiro de podridão humana. Cheiro de esgoto é cheiro de cidade grande, me disse minha vó. Ela tem razão. Quanto mais gente, mais esgoto. É um cheiro que me enjoa, mas me encanta.
            O que vamos fazer com o lixo? O que vamos fazer? Eu separo. A garagem do prédio fede uma mistura de comida estragada, papel higiênico e mofo por falta de insolação. É um cheiro particularmente desagradável e excepcionalmente humano. Não há humanidade sem lixo e sem fedor.
            Mas esse encruamento, esse realismo, essa veracidade da existência, que sempre me afastaram de ler O Cortiço e coisas do gênero, hoje me dão um certo frenezi... uma coisa louca. É uma repulsa misturada com paixão, porque a maioria de nós não entende a si mesmo, quem dirá aos outro! Cheiros dizem tudo sobre as pessoas.
            A essência das coisas é o cheiro que elas exalam. Gosto de cheiros... eles me excitam, me fazem parar de pensar em qualquer outra coisa. Tive uma aluna que desconhecia desodorante. Ela tinha a pele oleosa e coberta por pelos não muito grossos... o cheiro dela era uma mistura de suor e sebo de glândulas semiobstruídas. Ela saía e a sala permanecia impregnada. O cheiro dela me permitiu que eu a entendesse, em partes. Era desagradável, o cheiro, era pertinente. Ela também era pertinente, não era desagradável, mas parecia que ficava sempre algo por dizer, aquela lacuna que me irritava mais que o cheiro, mais que o nome estranho que ela tinha. Ela é uma incógnita, que nunca me interessou resolver.
            Tem gente que tem um cheiro adstringente, que punge dentro do nariz... um cheiro que se funde ao cheiro das ostras de mares escuros, de águas salobras. É um cheiro que me lembra esperma e o cheiro daqueles cadernos antigos que a gente dizia ter cheiro de cola. Peculiares os cheiros e os donos deles.
            Minha mãe não tem cheiro de nada que eu conheça a não ser ela. E impregna nas roupas e na casa e nos lençóis dela... mas só nas coisas dela. Não é um cheiro que se fixe nas coisas dos outros. É doce e limpo como uma manhã de primavera.

4 comentários:

  1. Fiquei pensando o quanto o certas pessoas suam (hahah)para comprar o Empório Armani,o Boss number one, o "Cocô" mademoiselle pra poder dar aqueles 3 beijinhos falsos de cada dia com segurança - só mais uma máscara entre tantas - e quanto tempo perde-se (tempo = vida)pra vestir essa superficialidade.

    Como faz falta o cheiro, crú, somente o cheiro...Progesterona,textosterona e flavenóides naturais... Como uma velha música dos Titãs : "isso para mim é enfeite..." O resto é embuste.

    Faço apologia ao jeitão "crustão" de ser hahahah

    ALL CRUSTIES SPENDING !!!

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  2. E tem o cheiro do Vini tbm...te amo linda, my real love

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  3. Sim.. OScheiroSdo Vini.. ainda vou escrever sobre isso. Teamomy real love

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  4. ...cheiros..adorei
    o cheiro dos cômodos, da casa da vó e das tias velhas....e o cheiro que não cheira a nada, mas ainda é o melhor...cheiro de mãe. Sim, concordo!

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