quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A grama do vizinho

Dia deses li um texto sobre a tal personagem da Paola Oliveira e fiquei triste, de verdade. Eu não deveria falar nada porque nunca vi o tal programa em que a Paola é estrela, faz anos que não assisto à emissora. Não assisto porque não gosto, não preciso e não sou obrigada. Sobre a Paola: linda, cara de chique, dizem que é uma chata em casa (mas isso é uma questão de gosto e opinião, right?). Se é boa atriz não sei, porque isso é muito relativo no país. Há alguns superbem falados e eu acho ruinzinhos, mas vai ver eu também sou chata como a Paola... whatever.

Deixa eu explicar o motivo da minha tristeza. O texto falava sobre o cara chegar podre em casa e se deparar com a gostosura da Paola na tv e a mulher em casa sofrendo pra cuidar de filho, trabalhando, ainda cuidando da casa... ele deseja a artista, mas conclui que ela é uma farsa e prefere a esposa.
Há algo muito errado nisso tudo. Primeiro que se você é um marido tão maravihoso, por que raios é só a esposa que tem 3 empregos (sim, galera, ser mãe dá um trabalho enorme! Não sou mãe mas conheço muitas)? E é só por isso que você valoriza sua esposa: pela capacidade dela em operar, em ser produtiva? Isso significa força necessariamente? Será que sua esposa não teria outras opções de escolha caso você ajudasse na limpeza, ou na cozinha ou cuidando da prole? Será que ela não seria ainda mais gostosa que a imagem da tv? Será que ela não ia ter mais tesão em você? Será que ela não fica pensando no carinha que trabalha na padaria enquanto vocês transam, porque ele é gentil e cuidadoso com ela naqueles 5 minutinhos diários em que ela vai comprar pão pro teu café da manhã?

Sabe, a gente nasce aberto pra amar no sentido real da coisa: amamos como aquela pessoa nos faz sentir, como ela nos mostra o que há de melhor em nossas almas. A gente ama não pela estética, mas porque podemos confiar na pessoa, amamos o toque, o gosto, o cheiro. Porque amar é algo que se faz por inteiro.  Mas passam a vida toda nos ensinando que o que importa é a estética, o plástico. É bom ver corpos através de telas ou impressos porque eles são esteticamente perfeitos. Agora quando o corpo é real, ele traz uma série de informações e bagagens difíceis de lidar, frágeis, desafiadoras.  E é cada uma dessas nuances que compõe um ser humano.  Mas também somos ensinados a gostar de padrões. Para mim, esse é o maior erro da humanidade. Endeusar coisas é complicado, garotada, a gente corre o risco de se tornar só mais um tijolinho ao invés de ser um universo.

Eu nunca tive amores por artistas no sentido físico. Acho muita gente linda maravilhosa, mas nunca paguei pau pra ninguém (tive uns platonismos, quem não teve?). Gosto de mentes, de gente desafiadora, que me faz pensar, que me instiga. Por que eu desejaria a minha esposa e não a moça da tv? Porque ela é uma pessoa real pra mim. Não acho que a Paola seja uma farsa: há gente de todo tipo. Quem sabe se minha esposa fosse uma dondoca louca eu a a amasse justamente por isso, ou se ela fosse uma moça simples do interior, delicada e tímida, se fosse desajeitada, se fosse meio maníaca, se não usasse nunca maquiagem, se tivesse vergonha da celulite... eu a amaria, em especial, por um motivo único, uma característica só dela, porque ela me mostrou isso e me deu de presente seu coração e confiança, porque somos íntimos e cúmplices.

Acho uma tristeza isso tudo, sabe? Querer sempre o que não é seu. É uma doença. Querer estar sempre disponível também pode mostrar um medo gigantesco de se deixar conhecer, de tentar descobrir essas peculiaridades e sair dessa padronagem alienante.

Aí a mulher desiste de chamar uma empregada pra ter um tempo livre porque o marido tá babando pra tv e pode querer a empregada, e continua trabalhando feito uma louca. Não tem tempo nem pra arranjar um amante que entenda que sexo não é só beleza, sexo é muito mais que isso.  Porque ela tem medo de fazer umas loucuras com o marido... vai que ele acha que ela andou treinando por aí, ou que andou vendo uns vídeos na internet. Ele não acha que isso sejam coisas pra mulher ver. E aí vira esse círculo vicioso em que tudo rola bem só no campo da imaginação: ele pensa na tv, ela neura sobre o que queria fazer e não pode, mas de vez em quando sonha com algum galã.. e no fim das contas nada disso é real, muito menos o sexo. E ela continua achando que ser mulher de verdade é essa escravidão de 3 turnos para o marido "provedor da casa", que acha que respeito é isso mesmo e tá tudo muito massa.

E daqui 10 anos alguém vai estar escrevendo algo muito parecido com o que vocês acabaram de ler, porque é muito difícil se desfazer de uma cultura assim, mas eu espero que você esteja vivendo um caso tórrido com seu amor (independente da idade de vocês, de como estão os corpos ou de quantos anos tem a união), cheio de sacanagem, orgasmos e risadas. E um bom vinho pra acompanhar.


Imagem: http://farm4.static.flickr.com/3823/10769465115_7b3fd35b62_m.jpg

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