segunda-feira, 2 de agosto de 2010

#12 Ser professor

        Durante as férias confesso que fico meio apática. Perco toda a paciência de escrever, estudar ou produzir qualquer coisa interessante. Ainda que durante esse curto período em que estive semirreclusa (nova ortografia sucks) entre a minha casa e a casa dos meus pais tive um tempinho de encontrar alguns textos interessantes para trabalhar com meus alunos. Fora isso: zero, nem ler eu li!

            Hoje tive minhas primeiras aulas no trabalho e na faculdade. Como sabem, sou professora e aluna ainda. E durante a aula dessa noite (Linguística aplicada ao ensino de Língua Inglesa) tive alguns insights- que parecem ter sumido da minha cabeça nesse momento – acerca do papel do professor.

            Entre um gole e outro do resto do vinho argentino que, terrivelmente, está gelado por ficar na geladeira, leio um milhão de coisas e penso no que queria dizer. As férias se resumem, para mim, a visitar amigos e ficar na Internet. Meus estímulos são de comunicação e reclusão, tudo junto ao mesmo tempo. Durmo bastante, não aproveito o sol da manhã, pois fico acordada até tarde e durmo até tarde. Aí parece que o mundo perdeu um naco de tempo precioso para a minha existência. Acho que isso acaba um pouco com o meu cérebro. Quando retomo as aulas parece que acordo de um torpor até então interminável. Aí me encho de estímulos e tudo se acende dentro de mim.

            Sou dependente de estímulos para pensar, para poder retomar tudo aquilo que vive dentro de mim. Hoje acordei mais uma vez para a minha academicidade, para o desejo de pesquisa e evolução inato, mas adormecido por um mês. Esse é meu último semestre de faculdade, finalmente. Estou cansada de ir e vir daquele lugar longínquo e gelado que é a universidade. Mas já começo a sentir falta de ter aula (podem me chamar de nerd). Aula me deixa feliz.

            Gostaria de saber se meus colegas pensam assim. Se eles estão gostando do fato de ter escolhido a profissão arriscada que é a de ensinar. É arriscada porque, além de ter que ter sensibilidade para perceber as necessidades de cada aluno em particular, temos de atender às expectativas de pais cada vez mais exigentes, sem contar as demandas da escola e os objetivos pessoais que traçamos. Ser professor exige demais de uma pessoa. Atire a primeira pedra quem nunca pensou que o salário é baixo, é baixo se considerarmos tudo aquilo que nos cabe realizar.

            Ainda nesse fim de semana minha cunhada disse que se a professora é louca, os alunos vão ser um pouco loucos. Porque os professores que estão formando a próxima geração. Preparem-se aqueles que serão meus alunos: eu sou um pouco louca. XD. Concordo com ela e me pergunto, não em relação aos professores que são meio fora da casinha. Esses ainda têm a chance de formar pessoas críticas, criativas e inovadoras. O problema são aqueles que não fazem nada, que ficam esperando o barco passar e vão deixando seus alunos na mão, não percebendo a responsabilidade que carregam de ajudar os pais a construir a educação de crianças e adolescentes bombardeados diariamente por todo tipo de informação, de qualidade e lixo, sem saber como filtrar aquilo que serve e o que pode passar batido.

            Minha irmã, que tem 12 anos como a minha cunhada, me reporta tudo aquilo que os professores fazem na escola. Fico sabendo de tanto absurdo que acontece que me dá vontade de ir supervisionar e questionar o corpo docente sobre o que está dizendo e desenvolvendo com a turma. Me seguro porque sempre tem muita coisa boa rolando e professor também é ser humano e erra. Mas isso é um estímulo para observar minha própria prática.

            Escolher ser professor é abocanhar um pedaço de carne crua bem maior do que se pode engolir e ter de achar um jeito de mastigar e digerir tudo aquilo. Mas, como diria Pennywise “we don’t need divine intervention”. A gente só precisa de calma e paixão pelo que fazemos com nossos pupilos. Uma boa dose de criatividade e outra de paciência também são essenciais. Professor ou futuro professor: encontre a vocação ou vai à fruta que partiu e faz outra coisa... as crianças de hoje serão os adultos no comando quando você estiver velho. Aí não adianta chorar, porque nós, professores, somos essenciais nesse processo de transformação do mundo.

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