segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mais um momento poesia

Eu podia morrer hoje

28/11/08



É, eu podia morrer hoje

Estou tão perdida quanto no dia dessa foto...
Aquela vontade de me lançar ao mundo sem dizer nada a ninguém
aquela vontade de morrer um pouquinho
E acordar depois, nova
Olho as fotos
Elas me dão um dor incrível no peito
Elas me maltratam porque não podem ser mais
Não podem ser nada além de fotos
De espaços no tempo,
capturados
sem volta
sem volta
sem reprise na sessão da tarde
na tarde quente de novembro
meu coração chora
bate pra todos os lados
e nenhum lado é o certo.
Espero ser assim só hoje.
Algo sei-lá de-onde me manda mais trabalho
Trabalho
trabalho
é bom:
me faz prestar atenção em outras coisas 
que não na minha dor
Dor besta
dor de crescer
como dóem as pernas das crianças que crescem rápido demais.
A mim dói o peito
porque nele não cabe tanta coisa,
tanta confusão,
tanta dor,
tanta alegria de estar fazendo as coisas do meu jeito
alegria de ter os amigos que eu tenho
de ter por perto pessoas que me admiram e me dão força
e que me fazem ver o lado bom
quando estou cega de tudo.
Mas hoje, mesmo com coisas boas, boas pessoas,
eu preciso morrer um pouco... 
Amanhã é outro dia
amanhã é dia de fênix!










sábado, 18 de setembro de 2010

# 1 Carnaval (12/02/10)


Fim de semana de carnaval. Nesse momento Donna Summer canta freneticamente “ the summer is Magic, is Magic, oh oh oh, thesummerisMagic” [1]no meu ouvido. São Paulo floods in e floods out[2], No Rio Grande de Sul acontecem algumas enchentes também, menos agressivas. E, pô, até Rivera alaga. Rivera!!! Bom, mas com a quantidade de camelô tá mais pra Ciudad Del Este (ainda) chique com doce de leite de qualidade, e não esqueçamos os alfajores e a carne. Não esqueçam da carne, principalmente de oveja, que é uma delícia.
Ligo na CNN. Acabaram as chamadas sobre o Super Bowl e continuam as do Haiti. Ah, não!, vamos abrir uma parêntese pro Haiti, galera. Vale a pena, vale. Esse “paísinho” ali na América Central, pertinho de Miami Bitch, teve o quê na vida? Foi próspero? Teve mil riquezas ao longo de sua ainda existência. Naaa. Teve pobreza e terremoto. Todo mundo, digo, todo O Mundo está ajudando o Haiti a se restabelecer. Haha. Não sei de quê, mas os governos são humanos e pensam em ajudar os outros.  
O Arruda não apareceu na CNN, pelo menos nos horários em que eu estava assistindo. Ele nem vai aparecer. Vão soltar, eu acho, porque nunca prendem político, não é mesmo? E se prenderem, vai ser marco histórico, como a eleição do querido Nobel da Paz, depois de mandar mais exércitos pro Afeganistão, cujo poder só foi concedido por ciúme do Brasil ter um ex-analfabeto no pódio, cujo passado foi marcado por fome e sofrimento e o Cheiradinho, a quem nosso molusco vem distribuindo free hugs nada free, que já tomou o dinheiro de todo mundo em outras épocas. Mas a política das aparências é lei e pronto, como os 10 Mandamentos. No space for discussions, gentleman.[3]
Enquanto isso, na terra da folia (do bacanal, do carpe diem whatever it takes[4]) o povo samba, diz estar muito feliz em ser rainha da bateria, fica feliz com os turistas, a Ângela Bismarck remove os mamilos e costura a perereca pra desfilar no carnaval só com a beleza e sem sexualidade alguma, o que me remete às africanas mutiladas para não sentirem prazer. A diferença é que a Ângela é branca, loira e sem cultura. Mas não se assustem, os mamilos estão guardados no nitrogênio e serão recolocados no fim do carnaval, afirma o marido que é cirurgião plástico e totalmente vendido, diga-se de passagem.
E serão 4 dias (sem contar os extras até o próximo fim de semana) em que ligaremos a TV e em todos os canais abertos veremos bundas, lustrosas de óleo e suor, saltitando em frente aos nossos bare eyes[5]. E aquela galera toda vibrando e copulando em profusão, celebrando a vida que têm vivido até então, no meio de todo o caos que se (re)forma. Sem nem dar bola pros Maias, que nos denominaram homens de milho e sangue, e que decretaram o fim dessa polenta com molho pardo* em 2012. Vai saber!!!
Eu agüento carnaval... Me enclausuro comigo mesma, com meu namorado, com meus amigos que partilham do mesmo desgosto. Mas a melhor solução, acho eu, que é fugir pras montanhas e rezar pra que exista um deus. E que ele seja bom depois do fim. Ou, como diria nosso self-shotgunned [6]Cobain, que no afterworld me dêem um Leonard Cohen, so I can sigh eternally. [7]


[1] “o verão é Mágico, é Mágico,oh oh oh,  overãoéMágico”
[2] Enche e esvazia.
[3] Sem espaço para discussões, cavalheiros.
[4] custe o que custar.
[5] Olhos nus.
[6] Auto-escopetado.
[7] In the afterworld give me a Leonard Cohen, so I can sigh eternally- de uma música do Nirvana: Me deem um Leonard Cohen no além para que eu possa suspirar eternamente.



Tá bom, eu sei que não é carnaval!!!!!!!!!!

E quem canta a música não é a Donna Summer. É a Corona.... tipo duchas corona



Tá, eu sei que não é carnaval!!!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

#6 O Jardim do Diabo

Termino de ler O Jardim do Diabo mais uma vez. Já li umas 5, 7 vezes Trato de esquecer do livro para que possa ler de novo. Tenho essa mania, uma mania que me agrada, por mais estranha que ela seja.
O título do livro é aquele antigo ditado: cabeça vazia é o jardim do diabo. Só esqueceram de dizer que em cabeça de gente ignorante isso não acontece. Não se criam palpites, hipóteses, histórias absurdas ou teses bem elaboradas em cabeças vazias o tempo todo. Precisa-se de uma mente que se desocupe de outros trabalhos para que vire o jardim do diabo, para que se perca dentro de si.
Outro dia eu estava pensando que eu queria nascer ignorante se houver uma próxima encarnação. Para poder viver feliz com o que tivesse,sem aspirações, sem ansiedades e angústias por conta das pessoas do mundo, sem a preocupação de um futuro bem fundado Queria ser burra, não ter qualificação alguma para ser, por exemplo, professora. Queria viver sem me dar conta da minha existência, sabe? Sem me traumatizar, se querer entender o modo de agir das pessoas, sem querer abrir os olhos das pessoas.
Eu sou testemunha e remexo o lodo do meu cérebro. Remexo e avalio e descubro. Sou Estevão, com s dois pés, o Estevão que não foi ver o que aconteceu, mas sabia o que iria acontecer. Sou o Estevão que preferiu escrever não histórias de quinta, mas textos se padrão literário, textos sobre si e sobre o resto do mundo, sobre a sua incompreensão da humanidade. Porque das questões traumáticas que todos os filhos têm, a Estevão aqui já se resolveu. E isso deu lugar a traumas de grande escala e insolucionáveis.
Não entendo a burrice humana. Não compreendo essa necessidade de aceleração. Tal prática só contribui para o fim. Talvez não o fim físico da Terra, mas o esgotamento contínuo das essências que nos tornam humanos, das características inerentes aos seres que dominam o planeta. Não estou falando de alma, pois acredito que todos os seres têm alma e sente, nem de convivência em comunidade, pois todos os seres se organizam assim. É o poder, não o natural de se ter um líder da matilha, um que organize os outros. É o poder sem querer saber quais meios serão justificados pelos fins. São os meios que me dão medo, que me fazem querer fugir, correr em disparada.
Mas eu preciso parar de querer reinventar a humanidade, porque ela está assim e ponto. Não depende de mim, não depende do meu jardim. Depende do deles, de cada um deles.



segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Desritimado

Não me preocupa tanto 
a escassez de recursos minerais,
nem as queimadas das florestas,
nem o degelo das calotas,
mesmo que me faça chorar
ver os ursos polares se afogando.
O que me preocupa
e me faz crer no fim do mundo
é a escassez de amizade
e de pessoas com virtudes.
Acho que é por isso 
que me faltam rimas nos poemas.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O peso da água





24-10-2008
Tem dias em que as coisas pesam mais.
Tem dias em que as coisas deixam de estar na água
porque saímos do útero do inconsciente
E nascemos mais uma vez para o mundo.
Aniversários são sempre estranhos,
os meus,
não há festa,
nem sempre há surpresa.
Mas á sempre uma dor,
um parto,
um partir,
um repartir
de mim.
E o choro me lava,
me limpa,
me revela tudo aquilo que já sei.
E chove mais uma vez,
a primeira vez que noto
chover no dia da fênix que há em mim.
Será que as cinzas
irão dar vida a uma nova de mim
antes que o peso da água
queira me banhar mais uma vez?







Mário Quintana dizia:


Data e Dedicatória 

Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho,
Se existe hora, é sempre a hora estrema
Quando o anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
Um poema é de sempre, Poeta:
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez ainda nem tenha nascido,
Dedica, pois, os teus poemas.
Não os dates, porém:
As almas não entendem disso...



Me desculpe, Passarinho, mas eu preciso de datas... números são cabalísticos.


Não, não é meu aniversário hoje. É na data da foto.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Os Sete Anões

            Um útero e apenas um útero. Temos 2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas, 2 pulmões, 2 rins, 2 ovários ou testículos, 2 braços, 2 pernas... Mas temos apenas 1 cérebro, 1 coração e 1 útero. Parece que tudo aquilo que faz vida, de fato, é único e precioso.
            
            Hoje era dia de visitar a ginecologista em função de vários miomas que tenho no meu singular útero possivelmente gerador de vida. Tá certo que adiei um pouco a consulta devido ao que ouvi e li sobre miomas uterinos. Primeiro que não se pode usar DIU quando se tem mioma. Meia verdade: se os miomas estiverem dentro do útero (submucosos) aí não pode, se os nódulos estiverem dentro da parede endometrial (intramurais) ou fora (subserosos) aí pode. Segundo, existe o embolioma, tratamento que bloqueia a artéria que nutre o mioma. Mito: são embolizadas as artérias que nutrem todo o útero, podendo este se tornar infértil por falta de circulação. Não posso fazer e nem quero. Terceiro, miomectomia (extração dos miomas por cirurgia invasiva) só deve ser feita em casos mais graves. Verdade: quando os miomas atingem um tamanho superior a 4cm no maior diâmetro, quando há dor ou sangramento é recomendada a remoção. Não é meu caso. Com esses mesmos parâmetros pode ser indicada a simulação de uma menopausa medicamentosa por no máximo 4 meses. Mas sentir-se bem é o que não acontece, já que uma menopausa para uma jovem de 23 anos não é lá das melhores coisas da vida. Fugi disso também.
          
            O que me resta, ainda bem, é esperar e ver o que acontece. O problema da espera é a espera em si e as dúvidas que ela traz. Não se sabe se os miomas crescem ou aumentam de número, não se sabe quanto tempo ainda é possível esperar e as ultrassonografias acontecem não uma, mas 2 vezes ao ano... e cada ulrassom me deixa ais nervosa e angustiada. Fazer exercícios a fim de se aumentar os níveis de hormônio da felicidade é o mais recomendado para todos os casos. Minha médica me recomendou a compra de uma esteira a ser colocada em frente à TV e usada diariamente por, no mínimo,  meia hora. Vou ter que comprar uma esteira!

            Durante o exame, embora não saibamos quantos nódulos habitam meu ventre, meu útero foi batizado de Zangado, pois um dos nódulos fica sobressalente, dando a impressão de ser um nariz igual ao dos 7 anões... e os 7 (ou menos) anões estão ali, dominados pelo nariz do Zangado, o maior de todos. E o nome veio bem a calhar, pois por muito tempo não quis ter filhos. E me diziam que quando eu chegasse aos 20 e poucos, um surto de hormônios me faria ter vontade de ser mão. Eu não acreditava, mas aconteceu. Acho que boa parte de não querer ser mãe vinha de dentro do meu subconsciente, me avisando que não era hora q que nem a pessoa que estava comigo era a certa. acontece que, depois que você encontra AQUELE cara maravilhoso que te faz feliz e é o mais lindo do mundo, você sente a necessidade de saber qual será a mistura dos gens, como vai ser o fruto de todas as horas de amor e felicidade que estar com esse cara te proporcionam. Quero ser mãe.

            Antes dessa consulta, tinha medo de ter que engravidar agora, amanhã, semana que vem. Não posso. Tenho ainda mil coisas pra fazer. Também tenho medo de remover os miomas daqui a algum tempo e ficar com uma cicatriz e ter que engravidar dali 2 anos. Espero que meu útero aguente, no mínimo, mais 3 anos cultivando seus 7 anões. Aí faço a miomectomia múltipla, aguardo 2 anos epouco e tenho um filho. Ou que aguente até meus 28, o que seria o ideal, engravido  retiro o útero. Porque mioma é um bichinho desgraçado: você retira e logo eles tornam a aparecer, sendo a retirada do útero a única salvação contra os 7 anões.

            Seja qual for meu futuro de Branca de Neve sem madrasta e maçã envenenada, espero que meus desgraçadinhos fiquem na deles... que o Zangado diminua gradativamente seus resmungos e que o Príncipe Encantado esteja ao meu lado pra eu saber qual vai ser a cara do nosso retrato daqui a 6 anos. Enquanto isso... bom, enquanto isso, eu faço as milhões de coisas que tenho que fazer e tento ficar em paz.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

#12 Ser professor

        Durante as férias confesso que fico meio apática. Perco toda a paciência de escrever, estudar ou produzir qualquer coisa interessante. Ainda que durante esse curto período em que estive semirreclusa (nova ortografia sucks) entre a minha casa e a casa dos meus pais tive um tempinho de encontrar alguns textos interessantes para trabalhar com meus alunos. Fora isso: zero, nem ler eu li!

            Hoje tive minhas primeiras aulas no trabalho e na faculdade. Como sabem, sou professora e aluna ainda. E durante a aula dessa noite (Linguística aplicada ao ensino de Língua Inglesa) tive alguns insights- que parecem ter sumido da minha cabeça nesse momento – acerca do papel do professor.

            Entre um gole e outro do resto do vinho argentino que, terrivelmente, está gelado por ficar na geladeira, leio um milhão de coisas e penso no que queria dizer. As férias se resumem, para mim, a visitar amigos e ficar na Internet. Meus estímulos são de comunicação e reclusão, tudo junto ao mesmo tempo. Durmo bastante, não aproveito o sol da manhã, pois fico acordada até tarde e durmo até tarde. Aí parece que o mundo perdeu um naco de tempo precioso para a minha existência. Acho que isso acaba um pouco com o meu cérebro. Quando retomo as aulas parece que acordo de um torpor até então interminável. Aí me encho de estímulos e tudo se acende dentro de mim.

            Sou dependente de estímulos para pensar, para poder retomar tudo aquilo que vive dentro de mim. Hoje acordei mais uma vez para a minha academicidade, para o desejo de pesquisa e evolução inato, mas adormecido por um mês. Esse é meu último semestre de faculdade, finalmente. Estou cansada de ir e vir daquele lugar longínquo e gelado que é a universidade. Mas já começo a sentir falta de ter aula (podem me chamar de nerd). Aula me deixa feliz.

            Gostaria de saber se meus colegas pensam assim. Se eles estão gostando do fato de ter escolhido a profissão arriscada que é a de ensinar. É arriscada porque, além de ter que ter sensibilidade para perceber as necessidades de cada aluno em particular, temos de atender às expectativas de pais cada vez mais exigentes, sem contar as demandas da escola e os objetivos pessoais que traçamos. Ser professor exige demais de uma pessoa. Atire a primeira pedra quem nunca pensou que o salário é baixo, é baixo se considerarmos tudo aquilo que nos cabe realizar.

            Ainda nesse fim de semana minha cunhada disse que se a professora é louca, os alunos vão ser um pouco loucos. Porque os professores que estão formando a próxima geração. Preparem-se aqueles que serão meus alunos: eu sou um pouco louca. XD. Concordo com ela e me pergunto, não em relação aos professores que são meio fora da casinha. Esses ainda têm a chance de formar pessoas críticas, criativas e inovadoras. O problema são aqueles que não fazem nada, que ficam esperando o barco passar e vão deixando seus alunos na mão, não percebendo a responsabilidade que carregam de ajudar os pais a construir a educação de crianças e adolescentes bombardeados diariamente por todo tipo de informação, de qualidade e lixo, sem saber como filtrar aquilo que serve e o que pode passar batido.

            Minha irmã, que tem 12 anos como a minha cunhada, me reporta tudo aquilo que os professores fazem na escola. Fico sabendo de tanto absurdo que acontece que me dá vontade de ir supervisionar e questionar o corpo docente sobre o que está dizendo e desenvolvendo com a turma. Me seguro porque sempre tem muita coisa boa rolando e professor também é ser humano e erra. Mas isso é um estímulo para observar minha própria prática.

            Escolher ser professor é abocanhar um pedaço de carne crua bem maior do que se pode engolir e ter de achar um jeito de mastigar e digerir tudo aquilo. Mas, como diria Pennywise “we don’t need divine intervention”. A gente só precisa de calma e paixão pelo que fazemos com nossos pupilos. Uma boa dose de criatividade e outra de paciência também são essenciais. Professor ou futuro professor: encontre a vocação ou vai à fruta que partiu e faz outra coisa... as crianças de hoje serão os adultos no comando quando você estiver velho. Aí não adianta chorar, porque nós, professores, somos essenciais nesse processo de transformação do mundo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Confiança

          A confiança, dirão alguns, é abstrata. É abstrata porque não podemos tocá-la com as mãos, sentindo seu peso e seu toque delicado de seda. 

          Saio com as minhas amigas de quando em quando. Na maioria das vezes vamos para um lugar em que encontramos poucos conhecidos, o que nos dá segurança para poder falar tudo aquilo que só podemos dizer entre amigos. Mas às vezes vou parar no Batatas, um lugarzinho charmoso na principal rua noturna da cidade, e lá encontro mais duzentos amigos e outros tantos conhecidos, desconhecidos, estranhos e bizarros, enttre outras classes de seres humanos. Acontece que entre os conhecidos acabo ouvindo um afiado "cadê o namorado?" e respondo sem rodeios com um "tá em casa, tá na aula, whatever." Aqueles que não me conhecem, pelo fato de me verem desacompanhada de um homem, pressupõem que eu sou solteira. Não sou. Ao contrário: dei sorte de achar um homem que confia em mim. Quantos casais na faixa dos 20-30 anos você conhece que vivem sob a política da confiança? Eu posso contar nos dedos.

          Sem dúvida eu escuto cantadas, recebo elogios, olhares. Eu sei que o meu namorado também passa por isso. E eu não me importo. Tem até, às vezes, algum louco que elogia meu batom vermelho ou vem falar da florzinha que eu faço com a língua, demonstração ingênua da minha parte, normalmente porque algum outro louco resolveu mostrar seus dotes artístico-corporais como mexer a orelha ou ficar vesgo de um olho só. 

          Mas não é por isso, nem por mil outras coisas que eu vou deixar de lado o que eu sinto em troca do instantâneo e descartável que são essas relações engatilhadas por míseras afinidades, ou risadas compartilhadas ou massagens no ego. Porque confiança não é o simples fato de acreditar que o outro vai te respeitar porque te ama, amém. Confiança é um negócio difícil de se conseguir pois não basta unicamente amar para que ela exista. Ela deriva de um processo amor-convivência-respeito-diálogo-convenções-lealdade-caráter, principalmente caráter.

          Então, se um dia você vir a conhecer uma pessoa com quem você acha que vale a pena namorar, confira se ela tem as qualidades que a construção da confiança exige. Se não... I'm sorry! Valores do século retrasado ou insegurança não combinam com a era pós-moderninha. Bom diálogo e um desejo de uma bela edificação pra você!

The best feeling ever

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sobreviventes do Holocausto

Polêmicas à parte, sou uma pessoa que admira os que lutam e vencem, provando que somos seres capazes de tudo.
Lendo o Kibe Loco, encontrei esse vídeo bem humorado de uma famíla de 3 gerações que sobreviveu ao Holocausto:


Nesse momento Hitler se revira no túmulo!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

#2 Hoje está um dia morto, mas não completamente.

(08/12/10)-deve estar errada a data




É a segunda vez que leio Hoje está um dia morto do André de Leones. E é a segunda vez que fico embasbacada. Caio dura, morta cheia de mosca no chão. Sabe? Dá uma puta vontade de mandar tudo à merda.
Penso em ouvir uma música enquanto lavo a louça acumulada. Mas quero só ouvir o som do silêncio. Em algum apartamento do prédio ouvem uma rádio. Me lembra a empregada do livro, da do Veríssimo, em O Jardim do diabo, e a empregada da minha antiga casa. Tento chorar, mas não consigo. Meto as luvas nas mãos grandes, que meus pais me deram, e começo a lavar. Uma formiga surgida da puta-que-pariu, struggling for her life [1]no meio da espuma, tenta subir pelo pano da pia. Não sei a troco do quê sempre tento salvar os insetos. Tiro a coitada dali e largo no marco da janela que fica sobre a bancada. Vai espuma junto e a formiga se enfia naquilo, como um suicida tresloucado. Afogo ela, a fim de limpar a toxicidade. Acho que matei a infeliz. Assopro pra tirar a água. Ela se mexe e começa a subir pelo metal. Pára e alisa as antenas. Uma foi cortada ao meio em algum momento de sua vida insética.
E ela sobe, dando voltas, ziquezagueando. Toda formiga sobe. Deve ser em busca de achar o topo do formigueiro, pra poder descer e viver uma vida humana. Maldito Esopo e sua formiga. A gente começou, depois desse cara, a só pensar e trabalhar e correria e aí o mundo começou a morrer. Mas a culpa é nossa e não do Esopo.
Continuo embasbacada com o livro.  A máquina de lavar gira Mary-go-round. Não estou plagiando o estilo do autor. Sofro (ou não, acho que tenho apenas, não sofro) dessa coisa de não lembrar de palavras em português... diariamente, na fala.. fico com medo de me acharem metida ao mesmo tempo em que penso  who cares?, mas faço um esforço para lembrar da maldita palavra, ou peço ajuda a alguém que saiba do meu acometimento.
Eu sei que me identifico com esse livro, com Jean e Fabiana, com essa morte do mundo e dos seres que nele habitam. Sou professora nesses meus 23 míseros anos. E ainda por cima teacher of English num país que prefere ficar se autoafirmando terceiro mundo from hell porque o ensino é uma palhaçada e fazem humor de toda sua própria desgraça. Isso me enoja. Mas aí eu vou lutar pra quê? Pois tem horas que ser professor é perceber que se escolheu a pior profissão do mundo porque a maioria dos alunos já sofre desse mal do fim do mundo porque foram criados por pais doentes da vida sem perspectiva de futuro. A alegria está morta há tempos.
Ao mesmo tempo em que tenho medo que a profecia dos maias, chapados até por dentro dos olhos, de que e 2012 cest fini le monde, penso que podia ser uma boa. É, se eu fosse sozinha (sem família, amor e amigos, diga-se) eu ia dar boas gargalhadas vendo a Terra se consumir e voltar ao pó, com lágrimas escorrendo pelas bochechas saltadas em riso. Lágrimas de saber que a humanidade teve poucos humanos, muitos monstros e hundreds of thousands de seres automatizados à autodestruição. E agora, na TV, agora que faltam 2 aninhos para a profecia do the fucking end of the world, o povo todo quer reverter estragos, como num pedido de perdão ao mundo por não ter cuidado devidamente dele. É uma piada! Humor de quinta, o caos.
            Sabe todos esses caos que já aconteceram? Chernobyl, Holocausto, Hiroshima e Nagasaki, Titanic, Boing 747, enchente, guerras, desastres nucleares, Sodoma e Gomorra, o dilúvio divino, a maçã...? Tudo isso está acontecendo agora, hoje, agorinha mesmo enquanto você toma seu cafezinho e faz as cruzadinhas do jornal empapado de sangue de humanos e dos automatizados. Porque monstros... Monstros só morrem quando perdem a luta contra outros monstros mais poderosos.


[1] Lutando “bravamente” por sua vida.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Momento poesia (minha)

Inicialmente escrevi textos e poemas a fim de uma publicação física.... em folha branca, capa vermelha e letras bonitas. Quem sabe um dia esse dia chegue, de fato, e eu possa levar meu próprio livro-filho para dormir na cabeceira da minha cama, enquanto tenho sonhos loucos e vívidos.
O poema de estréia não é o primeiro da escrita:





Espelho

Este caderno já soube tanto
Da minha vida
Dos meus anseios
Das minhas dores
Dos meus medos
Das minhas angústias
Dos meus dissabores
Das minhas vontades
Dos sonhos perdidos
As minhas falhas
das minhas conquistas
Das minhas perdas
Das minhas mortes
Das minhas ressurreições...


De tudo de mim.



Este caderno
Nada mais é
Que o espelho da minha Alma.





*******Detalhe para o ano da foto. Não, eu não alterei... De repente estava assim.

domingo, 27 de junho de 2010

#10 Cheiros

           Entro em casa depois de um dia exaustivo e desconexo de sentidos de finalidade. O cheiro que vem do banheiro não é mais de mijo velho, apenas. Agora sobe um cheiro de merda. Fico pensando se isso só acontece meu modesto apartamento de um quarto porque algo deve ter de errado na privada ou se em todos os outros sobe o mesmo cheiro de podridão humana. Cheiro de esgoto é cheiro de cidade grande, me disse minha vó. Ela tem razão. Quanto mais gente, mais esgoto. É um cheiro que me enjoa, mas me encanta.
            O que vamos fazer com o lixo? O que vamos fazer? Eu separo. A garagem do prédio fede uma mistura de comida estragada, papel higiênico e mofo por falta de insolação. É um cheiro particularmente desagradável e excepcionalmente humano. Não há humanidade sem lixo e sem fedor.
            Mas esse encruamento, esse realismo, essa veracidade da existência, que sempre me afastaram de ler O Cortiço e coisas do gênero, hoje me dão um certo frenezi... uma coisa louca. É uma repulsa misturada com paixão, porque a maioria de nós não entende a si mesmo, quem dirá aos outro! Cheiros dizem tudo sobre as pessoas.
            A essência das coisas é o cheiro que elas exalam. Gosto de cheiros... eles me excitam, me fazem parar de pensar em qualquer outra coisa. Tive uma aluna que desconhecia desodorante. Ela tinha a pele oleosa e coberta por pelos não muito grossos... o cheiro dela era uma mistura de suor e sebo de glândulas semiobstruídas. Ela saía e a sala permanecia impregnada. O cheiro dela me permitiu que eu a entendesse, em partes. Era desagradável, o cheiro, era pertinente. Ela também era pertinente, não era desagradável, mas parecia que ficava sempre algo por dizer, aquela lacuna que me irritava mais que o cheiro, mais que o nome estranho que ela tinha. Ela é uma incógnita, que nunca me interessou resolver.
            Tem gente que tem um cheiro adstringente, que punge dentro do nariz... um cheiro que se funde ao cheiro das ostras de mares escuros, de águas salobras. É um cheiro que me lembra esperma e o cheiro daqueles cadernos antigos que a gente dizia ter cheiro de cola. Peculiares os cheiros e os donos deles.
            Minha mãe não tem cheiro de nada que eu conheça a não ser ela. E impregna nas roupas e na casa e nos lençóis dela... mas só nas coisas dela. Não é um cheiro que se fixe nas coisas dos outros. É doce e limpo como uma manhã de primavera.

domingo, 20 de junho de 2010

#9 Ah, a Copa

          
          A 17ª Copa do Mundo está acontecendo e o resto das coisas não. Como assim? Bom, vejamos... nossos alunos não vão às aulas, os funcionários de diversas empresas param de trabalhar em hora de jogo, lojas fecham, clientes não saem de casa, o trânsito pára, a vida pára e o jogo vive.

            Adoro futebol, gosto mesmo de assistir. Mas fico pensando na Copa e vejo que não sou tão fã assim. Pense nos hotéis que a África construiu para o evento. Será que as pessoas, depois dessa febre mundial, vão continuar visitando o país-sede e irão se hospedar nesses hotéis? Duvido... duvido muito. Falo dos hotéis porque esses representam gastos a serem regenerados em longo prazo. Ninguém faz um hotel para hospedar um número x de gente por não mais que um mês.

            O dinheiro gasto pela África do Sul em melhorias pró-Copa foi de 1,76 bilhão de libras!!! Estima-se que cada turista deixe lá 3 mil euros. Multiplicando o número de turista pelo valor suposto temos 1,119  bilhão de euros. A Libra vale mais que o Euro. A cotação de hoje está 2,62 e 2,20, respectivamente. Esses 42 centavos devem fazer uma baita diferença quando se trata de bilhões, não é mesmo?

            Então, não se paga! Tudo bem, certo que todo mundo que está lá em favor da FIFA, e ela própria, devem deixar muito dinheiro. Mas nada disso exclui o fator se preparar para algo que não vai durar. Gostaria muito que a Copa mudasse a situação de um país subdesenvolvido. Mas não muda.

            O que muda, então? Muda a rotina, principalmente a rotina do brasileiro que já é movido a carnaval em nível arterial. E o tempo vai passando e as coisas continuam as mesmas. Ou não: pioram. Mas por um lado agradeço à Copa por desacelerar esse caos frenético de rotinas extenuantes e sem sentido. Agradeço por deixar as pessoas mais felizes por estarem buscando uma vitória da alma e, de alguma forma, da dignidade, do orgulho de ser bom em alguma coisa.

            Agora, se o nosso molusco inventar de sediar 2014 aqui... Ah, amigos da rede globo, eu fujo pras colinas de Chernobyl!

Poesia em nível máximo




Outro grande mestre é LEONARD COHEN. Esse eu ainda posso ter a oportunidade de ver e ouvir pessoalmente, eu espero.


Descobri Cohen há mais de um ano e me apaixonei de tal forma que suas músicas me servem como calmante antes de dormir e como faíscas de inspiração. Há 40 anos ele vem compondo músicas de sentimento, numa poética inigualável. Com frases de impacto, figuras de linguagem maravilhosas e a habilidade de te fazer pensar e se encantar com cada verso, tudo embalado pela minha voz preferida: intensa, macia, rasgada, sábia.


Entre as músicas preferidas estão:
Avalanche
Diamonds in the mine
Bird on the wire
Famous Blue Raincoat
Sing Anothe Song, Boys




Mas a da última semana é Dress Rehearsal Rag.... vale a pena analisar e ouvir:


"Dress Rehearsal Rag"

Four o'clock in the afternoon 
and I didn't feel like very much. 
I said to myself, "Where are you golden boy, 
where is your famous golden touch?" 
I thought you knew where 
all of the elephants lie down, 
I thought you were the crown prince 
of all the wheels in Ivory Town. 
Just take a look at your body now, 
there's nothing much to save 
and a bitter voice in the mirror cries, 
"Hey, Prince, you need a shave." 
Now if you can manage to get 
your trembling fingers to behave, 
why don't you try unwrapping 
a stainless steel razor blade? 
That's right, it's come to this, 
yes it's come to this, 
and wasn't it a long way down, 
wasn't it a strange way down? 
There's no hot water 
and the cold is running thin. 
Well, what do you expect from 
the kind of places you've been living in? 
Don't drink from that cup, 
it's all caked and cracked along the rim. 
That's not the electric light, my friend, 
that is your vision growing dim. 
Cover up your face with soap, there, 
now you're Santa Claus. 
And you've got a gift for anyone 
who will give you his applause. 
I thought you were a racing man, 
ah, but you couldn't take the pace. 
That's a funeral in the mirror 
and it's stopping at your face. 
That's right, it's come to this, 
yes it's come to this, 
and wasn't it a long way down, 
ah wasn't it a strange way down? 

Once there was a path 
and a girl with chestnut hair, 
and you passed the summers 
picking all of the berries that grew there; 
there were times she was a woman, 
oh, there were times she was just a child, 
and you held her in the shadows 
where the raspberries grow wild. 
And you climbed the twilight mountains 
and you sang about the view, 
and everywhere that you wandered 
love seemed to go along with you. 
That's a hard one to remember, 
yes it makes you clench your fist. 
And then the veins stand out like highways, 
all along your wrist. 
And yes it's come to this, 
it's come to this, 
and wasn't it a long way down, 
wasn't it a strange way down? 

You can still find a job, 
go out and talk to a friend. 
On the back of every magazine 
there are those coupons you can send. 
Why don't you join the Rosicrucians, 
they can give you back your hope, 
you can find your love with diagrams 
on a plain brown envelope. 
But you've used up all your coupons 
except the one that seems 
to be written on your wrist 
along with several thousand dreams. 
Now Santa Claus comes forward, 
that's a razor in his mit; 
and he puts on his dark glasses 
and he shows you where to hit; 
and then the cameras pan, 
the stand in stunt man, 
dress rehearsal rag, 
it's just the dress rehearsal rag, 
you know this dress rehearsal rag, 
it's just a dress rehearsal rag. 






Não estou inspirada o suficiente... preciso ouvir Leonard...