domingo, 28 de julho de 2024

Clube do livro

 Em março (ou abril ?)deste ano entrei para um clube do livro de uma grande amiga de longa data, a Aline Ribeiro, do canal Café Passado no Youtube. Ela é historiadora, escritora e uma leitora ávida. Parece estranho falar, é algo tão anos 90 (leia com a voz do Ney Latorraca). Me dá uma vibe mulheres ricas do sul dos Estados Unidos, ou talvez na época do início da Bossa Nova no Rio. Pra muitos pode parecer algo pomposo, afinal, as mulheres que se encontravam em clubes de livro era geralmente “bem casadas” e não precisavam trabalhar. Mas como sabemos, vivemos no patriarcado, e nada mais propício que criar inimizade, inveja e competição entre mulheres, para que elas não tenham seus clubes do livro… para que não possam ser amigas, se admirar e dar apoio, para que não possam se fortalecer e pavimentar o caminho para as futuras gerações. É isso né?
O livro do mês era o maravilhoso O sol é para todos, narrando a história de uma menina que não tinha as características de uma menina como meninas devem ser e mais outros tanto acontecimentos que os convidam a mil reflexões. Mas outro dia eu falo dessa história, estou aqui pra falar de hoje, do último livro que lemos.
O livro de Julho foi A biblioteca dos sonhos secretos. A história se dá em torno de uma biblioteca no centro comunitário de Tokyo e sua intuitiva (e mágica) bibliotecária que inicia a conversa sempre com “o que você procura?” e, ao receber a resposta, digita com exímia velocidade vários títulos acerca do pedido do leitor, mas sempre acompanhado de um livro aleatório, totalmente fora de contexto e um chaveirinho de brinde com uma figura de feltro que ela mesma produz. O brinde e o livro extra acabam levando os leitores a pensarem e agirem de formas nunca antes pensadas e o resultado é sempre gratificante e bastante íntimo e pessoal.
Eu gostei tanto dessa mágica que convidei a Aline para fazemos um encontro um pouco mais imersivo. Separamos vários livros e marcamos citações em cada um deles. Anotamos o autor, título e página em tiras de papel e colocamos em um cachepot para que nossas amigas do clube sorteassem um papel e lessem a citação sorteada. Dispus os livros em frente a um espelho e nele colei a frase “o que você procura?” com desenhos de corações e um olho.



Também decidimos fazer algumas receitas que aparecem no livro: o pão de ló e os biscoitos de mel da latinha em que a bibliotecária guarda seus feltros e agulhas. Meu marido preparou uma versão vegana do bolo e a Aline fez um com brigadeiro. Eu preparei os biscoitos a partir de uma outra receita, pois descobri que os biscoitos Honey Dome não são reais. Então pedi licença poética e fiz de outra forma. O fazer as comidas também foi proposital, pois o livro traz essa mensagem do início ao fim: fazer coisas novas ou coisas sonhadas é sempre bom. É um ato de amor a si mesmo. 




E o nosso clube também é isso. Poder me reunir com mulheres que já amo e outras mulheres que estão em busca de amizade, apoio, vontade de viver, vontade de experienciar a vida num ambiente seguro e livre de julgamentos é um ato de amor porque é libertador demais. É poder ser você mesma e se sentir abraçada e apreciada. É poder sentir que aquelas pessoas passaram por coisas parecidas e entendem a tua dor, é poder encontrar humor nas mesmas coisas e até nas piores situações porque todo mundo está ali pra te segurar se você cair. É poder celebrar a vida, por mais cansativa e estranha que ela possa ser.