segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Desritimado

Não me preocupa tanto 
a escassez de recursos minerais,
nem as queimadas das florestas,
nem o degelo das calotas,
mesmo que me faça chorar
ver os ursos polares se afogando.
O que me preocupa
e me faz crer no fim do mundo
é a escassez de amizade
e de pessoas com virtudes.
Acho que é por isso 
que me faltam rimas nos poemas.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O peso da água





24-10-2008
Tem dias em que as coisas pesam mais.
Tem dias em que as coisas deixam de estar na água
porque saímos do útero do inconsciente
E nascemos mais uma vez para o mundo.
Aniversários são sempre estranhos,
os meus,
não há festa,
nem sempre há surpresa.
Mas á sempre uma dor,
um parto,
um partir,
um repartir
de mim.
E o choro me lava,
me limpa,
me revela tudo aquilo que já sei.
E chove mais uma vez,
a primeira vez que noto
chover no dia da fênix que há em mim.
Será que as cinzas
irão dar vida a uma nova de mim
antes que o peso da água
queira me banhar mais uma vez?







Mário Quintana dizia:


Data e Dedicatória 

Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho,
Se existe hora, é sempre a hora estrema
Quando o anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
Um poema é de sempre, Poeta:
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez ainda nem tenha nascido,
Dedica, pois, os teus poemas.
Não os dates, porém:
As almas não entendem disso...



Me desculpe, Passarinho, mas eu preciso de datas... números são cabalísticos.


Não, não é meu aniversário hoje. É na data da foto.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Os Sete Anões

            Um útero e apenas um útero. Temos 2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas, 2 pulmões, 2 rins, 2 ovários ou testículos, 2 braços, 2 pernas... Mas temos apenas 1 cérebro, 1 coração e 1 útero. Parece que tudo aquilo que faz vida, de fato, é único e precioso.
            
            Hoje era dia de visitar a ginecologista em função de vários miomas que tenho no meu singular útero possivelmente gerador de vida. Tá certo que adiei um pouco a consulta devido ao que ouvi e li sobre miomas uterinos. Primeiro que não se pode usar DIU quando se tem mioma. Meia verdade: se os miomas estiverem dentro do útero (submucosos) aí não pode, se os nódulos estiverem dentro da parede endometrial (intramurais) ou fora (subserosos) aí pode. Segundo, existe o embolioma, tratamento que bloqueia a artéria que nutre o mioma. Mito: são embolizadas as artérias que nutrem todo o útero, podendo este se tornar infértil por falta de circulação. Não posso fazer e nem quero. Terceiro, miomectomia (extração dos miomas por cirurgia invasiva) só deve ser feita em casos mais graves. Verdade: quando os miomas atingem um tamanho superior a 4cm no maior diâmetro, quando há dor ou sangramento é recomendada a remoção. Não é meu caso. Com esses mesmos parâmetros pode ser indicada a simulação de uma menopausa medicamentosa por no máximo 4 meses. Mas sentir-se bem é o que não acontece, já que uma menopausa para uma jovem de 23 anos não é lá das melhores coisas da vida. Fugi disso também.
          
            O que me resta, ainda bem, é esperar e ver o que acontece. O problema da espera é a espera em si e as dúvidas que ela traz. Não se sabe se os miomas crescem ou aumentam de número, não se sabe quanto tempo ainda é possível esperar e as ultrassonografias acontecem não uma, mas 2 vezes ao ano... e cada ulrassom me deixa ais nervosa e angustiada. Fazer exercícios a fim de se aumentar os níveis de hormônio da felicidade é o mais recomendado para todos os casos. Minha médica me recomendou a compra de uma esteira a ser colocada em frente à TV e usada diariamente por, no mínimo,  meia hora. Vou ter que comprar uma esteira!

            Durante o exame, embora não saibamos quantos nódulos habitam meu ventre, meu útero foi batizado de Zangado, pois um dos nódulos fica sobressalente, dando a impressão de ser um nariz igual ao dos 7 anões... e os 7 (ou menos) anões estão ali, dominados pelo nariz do Zangado, o maior de todos. E o nome veio bem a calhar, pois por muito tempo não quis ter filhos. E me diziam que quando eu chegasse aos 20 e poucos, um surto de hormônios me faria ter vontade de ser mão. Eu não acreditava, mas aconteceu. Acho que boa parte de não querer ser mãe vinha de dentro do meu subconsciente, me avisando que não era hora q que nem a pessoa que estava comigo era a certa. acontece que, depois que você encontra AQUELE cara maravilhoso que te faz feliz e é o mais lindo do mundo, você sente a necessidade de saber qual será a mistura dos gens, como vai ser o fruto de todas as horas de amor e felicidade que estar com esse cara te proporcionam. Quero ser mãe.

            Antes dessa consulta, tinha medo de ter que engravidar agora, amanhã, semana que vem. Não posso. Tenho ainda mil coisas pra fazer. Também tenho medo de remover os miomas daqui a algum tempo e ficar com uma cicatriz e ter que engravidar dali 2 anos. Espero que meu útero aguente, no mínimo, mais 3 anos cultivando seus 7 anões. Aí faço a miomectomia múltipla, aguardo 2 anos epouco e tenho um filho. Ou que aguente até meus 28, o que seria o ideal, engravido  retiro o útero. Porque mioma é um bichinho desgraçado: você retira e logo eles tornam a aparecer, sendo a retirada do útero a única salvação contra os 7 anões.

            Seja qual for meu futuro de Branca de Neve sem madrasta e maçã envenenada, espero que meus desgraçadinhos fiquem na deles... que o Zangado diminua gradativamente seus resmungos e que o Príncipe Encantado esteja ao meu lado pra eu saber qual vai ser a cara do nosso retrato daqui a 6 anos. Enquanto isso... bom, enquanto isso, eu faço as milhões de coisas que tenho que fazer e tento ficar em paz.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

#12 Ser professor

        Durante as férias confesso que fico meio apática. Perco toda a paciência de escrever, estudar ou produzir qualquer coisa interessante. Ainda que durante esse curto período em que estive semirreclusa (nova ortografia sucks) entre a minha casa e a casa dos meus pais tive um tempinho de encontrar alguns textos interessantes para trabalhar com meus alunos. Fora isso: zero, nem ler eu li!

            Hoje tive minhas primeiras aulas no trabalho e na faculdade. Como sabem, sou professora e aluna ainda. E durante a aula dessa noite (Linguística aplicada ao ensino de Língua Inglesa) tive alguns insights- que parecem ter sumido da minha cabeça nesse momento – acerca do papel do professor.

            Entre um gole e outro do resto do vinho argentino que, terrivelmente, está gelado por ficar na geladeira, leio um milhão de coisas e penso no que queria dizer. As férias se resumem, para mim, a visitar amigos e ficar na Internet. Meus estímulos são de comunicação e reclusão, tudo junto ao mesmo tempo. Durmo bastante, não aproveito o sol da manhã, pois fico acordada até tarde e durmo até tarde. Aí parece que o mundo perdeu um naco de tempo precioso para a minha existência. Acho que isso acaba um pouco com o meu cérebro. Quando retomo as aulas parece que acordo de um torpor até então interminável. Aí me encho de estímulos e tudo se acende dentro de mim.

            Sou dependente de estímulos para pensar, para poder retomar tudo aquilo que vive dentro de mim. Hoje acordei mais uma vez para a minha academicidade, para o desejo de pesquisa e evolução inato, mas adormecido por um mês. Esse é meu último semestre de faculdade, finalmente. Estou cansada de ir e vir daquele lugar longínquo e gelado que é a universidade. Mas já começo a sentir falta de ter aula (podem me chamar de nerd). Aula me deixa feliz.

            Gostaria de saber se meus colegas pensam assim. Se eles estão gostando do fato de ter escolhido a profissão arriscada que é a de ensinar. É arriscada porque, além de ter que ter sensibilidade para perceber as necessidades de cada aluno em particular, temos de atender às expectativas de pais cada vez mais exigentes, sem contar as demandas da escola e os objetivos pessoais que traçamos. Ser professor exige demais de uma pessoa. Atire a primeira pedra quem nunca pensou que o salário é baixo, é baixo se considerarmos tudo aquilo que nos cabe realizar.

            Ainda nesse fim de semana minha cunhada disse que se a professora é louca, os alunos vão ser um pouco loucos. Porque os professores que estão formando a próxima geração. Preparem-se aqueles que serão meus alunos: eu sou um pouco louca. XD. Concordo com ela e me pergunto, não em relação aos professores que são meio fora da casinha. Esses ainda têm a chance de formar pessoas críticas, criativas e inovadoras. O problema são aqueles que não fazem nada, que ficam esperando o barco passar e vão deixando seus alunos na mão, não percebendo a responsabilidade que carregam de ajudar os pais a construir a educação de crianças e adolescentes bombardeados diariamente por todo tipo de informação, de qualidade e lixo, sem saber como filtrar aquilo que serve e o que pode passar batido.

            Minha irmã, que tem 12 anos como a minha cunhada, me reporta tudo aquilo que os professores fazem na escola. Fico sabendo de tanto absurdo que acontece que me dá vontade de ir supervisionar e questionar o corpo docente sobre o que está dizendo e desenvolvendo com a turma. Me seguro porque sempre tem muita coisa boa rolando e professor também é ser humano e erra. Mas isso é um estímulo para observar minha própria prática.

            Escolher ser professor é abocanhar um pedaço de carne crua bem maior do que se pode engolir e ter de achar um jeito de mastigar e digerir tudo aquilo. Mas, como diria Pennywise “we don’t need divine intervention”. A gente só precisa de calma e paixão pelo que fazemos com nossos pupilos. Uma boa dose de criatividade e outra de paciência também são essenciais. Professor ou futuro professor: encontre a vocação ou vai à fruta que partiu e faz outra coisa... as crianças de hoje serão os adultos no comando quando você estiver velho. Aí não adianta chorar, porque nós, professores, somos essenciais nesse processo de transformação do mundo.