Em março (ou abril ?)deste ano entrei para um clube do livro de uma grande amiga de longa data, a Aline Ribeiro, do canal Café Passado no Youtube. Ela é historiadora, escritora e uma leitora ávida. Parece estranho falar, é algo tão anos 90 (leia com a voz do Ney Latorraca). Me dá uma vibe mulheres ricas do sul dos Estados Unidos, ou talvez na época do início da Bossa Nova no Rio. Pra muitos pode parecer algo pomposo, afinal, as mulheres que se encontravam em clubes de livro era geralmente “bem casadas” e não precisavam trabalhar. Mas como sabemos, vivemos no patriarcado, e nada mais propício que criar inimizade, inveja e competição entre mulheres, para que elas não tenham seus clubes do livro… para que não possam ser amigas, se admirar e dar apoio, para que não possam se fortalecer e pavimentar o caminho para as futuras gerações. É isso né? O livro do mês era o maravilhoso O sol é para todos, narrando a história de uma menina que não tinha as características de uma menina como meninas devem ser e mais outros tanto acontecimentos que os convidam a mil reflexões. Mas outro dia eu falo dessa história, estou aqui pra falar de hoje, do último livro que lemos. O livro de Julho foi A biblioteca dos sonhos secretos. A história se dá em torno de uma biblioteca no centro comunitário de Tokyo e sua intuitiva (e mágica) bibliotecária que inicia a conversa sempre com “o que você procura?” e, ao receber a resposta, digita com exímia velocidade vários títulos acerca do pedido do leitor, mas sempre acompanhado de um livro aleatório, totalmente fora de contexto e um chaveirinho de brinde com uma figura de feltro que ela mesma produz. O brinde e o livro extra acabam levando os leitores a pensarem e agirem de formas nunca antes pensadas e o resultado é sempre gratificante e bastante íntimo e pessoal. Eu gostei tanto dessa mágica que convidei a Aline para fazemos um encontro um pouco mais imersivo. Separamos vários livros e marcamos citações em cada um deles. Anotamos o autor, título e página em tiras de papel e colocamos em um cachepot para que nossas amigas do clube sorteassem um papel e lessem a citação sorteada. Dispus os livros em frente a um espelho e nele colei a frase “o que você procura?” com desenhos de corações e um olho.
Também decidimos fazer algumas receitas que aparecem no livro: o pão de ló e os biscoitos de mel da latinha em que a bibliotecária guarda seus feltros e agulhas. Meu marido preparou uma versão vegana do bolo e a Aline fez um com brigadeiro. Eu preparei os biscoitos a partir de uma outra receita, pois descobri que os biscoitos Honey Dome não são reais. Então pedi licença poética e fiz de outra forma. O fazer as comidas também foi proposital, pois o livro traz essa mensagem do início ao fim: fazer coisas novas ou coisas sonhadas é sempre bom. É um ato de amor a si mesmo.
E o nosso clube também é isso. Poder me reunir com mulheres que já amo e outras mulheres que estão em busca de amizade, apoio, vontade de viver, vontade de experienciar a vida num ambiente seguro e livre de julgamentos é um ato de amor porque é libertador demais. É poder ser você mesma e se sentir abraçada e apreciada. É poder sentir que aquelas pessoas passaram por coisas parecidas e entendem a tua dor, é poder encontrar humor nas mesmas coisas e até nas piores situações porque todo mundo está ali pra te segurar se você cair. É poder celebrar a vida, por mais cansativa e estranha que ela possa ser.
Infelizmente, assim como todos os anos, as coisas chegam ao
fim, inevitavelmente. Algumas por natureza, outras por pressão, outras porque a
gente cansa. Eu cansei.
Durante muitos anos as pessoas me achavam extrovertida, deveras social, aquela pessoa
que chega e vira amiga de todo mundo, enfim... eu não sou, nem nunca fui. Mas o
ser humano é adaptável e eu me adaptei, por um tempo, a viver muito inserida da
sociedade de modo tradicional. Família muito pequena (não tenho nenhum primo
direto- quem eu chamo de primo na verdade é do pai ou da mãe), poucos amigos,
poucas visitas, além de muitas horas sozinha com os bichos, as plantas e minha
imaginação. Raríssimas amigas posaram na
minha casa e vice-versa. Nunca tive um único grupo de amigos, nem uma única
turma de faculdade, não fiz nenhuma formatura, nem festa de 15 anos, nem
casamento... porque essas coisas todas me exigem manter amizades no sentido comum
da coisa (ah, agora lembrei de um hiato em que desapareci da vida de todos os
antigos círculos sociais). Não é que eu não queira manter amizades, sempre há
aqueles que estarão sempre na tua lista, mas amizade exige, no mínimo, ter a
mesma noção de ética.
Eu não tenho como manter amizades com pessoas que apoiam o
Bolsonaro, por exemplo, nem que façam piadas sobre peso ou sexualidade das
pessoas, nem com quem diz “não sou preconceituoso, MAS...”, nem de quem repassa
fotos íntimas de alguém (alguns inclusive passam fotos íntimas de um
desconhecido e acrescentam “aqui está o perfil do Facebook dessa pessoa”.. isso
é crime!). Eu não tenho como. Eu me sinto mal. Agora tem uns merdas querendo
transformar ideologia de gênero com pedofilia.... com PEDOFILIA... gente, eu me
sinto mal de saber que existe gente ignorante a ponto de conectar as duas
coisas. Me dá uma dor no peito, uma dor real que corre até meus braços.. acho
que é angústia isso. Eu já acho um saco ter que dizer pro cidadão que precisa
dar pisca sempre e atravessar na faixa, vc
imagina eu ter que explicar gênero pra gente que acha que tem um deus que
determinou A e B. (Se tiver um, que raio de idiotice é essa de determinar que é
A+B? que deus pequeno esse).
Eu também não posso ser amiga de quem adora Anitta mas odeia (a voz da) Pabblo
Vittar. Sinceramente, gente, parem... é muito feio tentar mascarar preconceito,
muito mais do que admitir que tem preconceito. Porque na hora que você admite,
você reconhece o problema e pode mudar. Se você não reconhecer o problema, não
terá como conserta-lo.
Agora eu estou deixando o cabelo crescer naturalmente sem pintar. Já teve gente
que riu, que fez cara feia, que me disse que eu sou muito nova... mas fala pros
meus cabelos então que eles deveriam esperar mais umas décadas pra aparecer, porque
tenho desde os 16, 17. E daí? Eu preciso ficar me enchendo de metais pesados,
amônia, formol, sei lá o que que tem nessas tintas porque eu preciso ser jovem
o máximo de tempo possível? A troco de quê? É também por isso que eu não posso
mostrar as celulites no calor, que tenho que me enfiar debaixo de roupa pra
esconder o que todo mundo tem? Também não posso deixar crescer meus pelos?
Preciso me bronzear (e atiçar células cancerígenas) porque preciso ter
marquinha de biquíni pra ser sexy? Me
cansa, me cansa tanto....
Aí chega a virada do ano. Mil foguetes. Inclusive na casa de
gente que tem animais de estimação - que se escondem e até morrem-, crianças
pequenas – podendo sofrer perda da capacidade auditiva - e idosos acamados – que já sofrem só de
estarem ali. Além da bebedeira, claro.
Sempre tem que ter um tonel de trago pra ficar bem bêbado porque só assim que é
legal, só é bom se estiver bêbado. Me cansa, me cansa muito.
Também sempre tem aquele espertinho que prega peça em todo
mundo, xinga em forma de piada ou arma alguma pegadinha que vai sujar ou ferir
o outro. Mas eu quero é muita distância de gente assim, tipo uns 7 palmos.
Outro tipo que tenho vontade de encher de tapa é mulher que
acha que feminismo é colocar as mulheres acima dos homens e ser lésbica. Tratem
da ignorância de vocês no Youtube mesmo, assistindo a palestras, discussões,
depoimentos... E os héteros da masculinidade ferida: vão se catar, por favor,
bem longe daqui. Ou então estudem, leiam, pensem, se coloquem de verdade no
lugar das mulheres, se tratem também dessa ignorância.
Gente racista. Não tem mais o que falar. Racista pra mim é
alguém que escolheu ser burro e achou lindo. Ser racista é ter um cérebro que
não faz nada além de ocupar espaço.
Eu nem vou falar de Terra plana porque é tão idiota, mas tão
idiota, que eu estou achando que é pegadinha, tipo “O sul é meu país”... tá
pior que piada de loira, gente.
Eu teria mais coisas pra falar, pra explicar. Mas sempre tem aquele que entende como bem quer e diz que tudo é uma questão de interpretação. aiaiai me cansa!
Então, se você se encaixa em algum desses parágrafos (ou com
qualquer coisa desse tipo), sinto muito, mas eu não tenho porque me desgastar
com a tua existência.
Mas 2018 tá aí pra você mudar. Feliz final de calendário e soltem fogos de luz,
sem estouro, babacas.
Existem diversos vídeos e documentários sobre tatuagem... mas vamos ver esses 2 curtinhos primeiro. Ambos com legendas em várias línguas. Escolha a tua e assista agora.
O primeiro fala brevemente sobre o passado da tatuagem:
Você sabe o que acontece dentro do corpo quando você faz uma tattoo? Então aprende:
Aprendeu? Ótimo! Vamos falar de mim, agora...
Eu nasci em 1986 e não lembro alguma vez ter sentido estranhamento em relação a tatuagens. Não achava estranho, nem feio, nem que sujava a pele. Felizmente tive (e tenho) pais muito modernos e abertos quanto a tatuagem (e todos os assuntos possíveis), então nunca os vi discriminar alguém por causa de características físicas. Entre 92 e 97 (eu acho) eu ia pra praia com a minha vó, na casa da irmã mais nova dela, onde passei as coisas mais felizes da minha infância com os primos da minha mãe (que regulam de idade comigo), inclusive fazer tatuagem que vinha com salgadinhos, algodão doce, pirulitos e doces dos anos 90.
Aliás, vamos fazer uma pausa pros anos 90, a década divisora de águas entre a percepção do coletivo e do individual. Uma década que abriu portas para a aceitação do diferente, da tatuagem, da imagem corporal, da expressão, da sexualidade desconexa de gênero, abriu as portas para a liberdade do ser. Infelizmente também foi valorizada a exploração do corpo feminino como objeto, trazendo as dançarinas de axé e pagode para os holofotes e com elas seus piercings de umbigo. Inspirada, coloquei o meu aos 13 anos, praticamente 1 ano e 1 mês antes de "perder" a virgindade. Fui a primeira menina da escola inteira a ter piercing. Mas já fazia em torno de 6 meses que eu furava as orelhas dos amigos na piscina do Clube Gaúcho. Eu trazia os brincos e os meninos faziam fila. Eu furava orelha por orelha sem nada pra limpar, sem luvas, sem nada. Ainda bem que era todo mundo criança limpinha. Bons tempos. Talvez umas 30 orelhas, talvez mais.
Nessa década também se popularizaram as tatuagens em henna, que eram feitas nas feirinhas hippies em todas as praias da costa brasileira, sem exceções. Eu tive várias. Nas fotos da minha festa de 16 anos é possível ver alguma coisa tatuada na minha omoplata direita (eu não lembro o que era, mas penso que talvez fosse uns ramos e um beija-flor clássico), um teste para minha primeira tatuagem permanente, um gato, que fiz 2 anos depois no mesmo local do corpo, assim que me tornei maior de idade.
Não lembro da dor do gato. O local é favorável. Talvez eu sempre tenha sido tolerante à dor, mas depois falamos desse fator tão preocupante. Roubei o desenho de uma revista num tatuador bem ruinzinho e levei pro Fopho, que fez todas as minhas tattoos até agora, exceto a do pé. Fiquei felizona por 2 anos, até que precisei fazer a segunda. Aí no braço é mais difícil esconder. E é nesse ponto que uma pessoa tatuada começa a se questionar sobre o que significa ter uma tatuagem.
Como assim eu preciso esconder algo que faz parte de mim? Porque então eu sinto essa necessidade de colocar desenhos na minha pele? Se me causa dor, por que eu me tatuo? Por que eu não me importo com a dor nem a cicatrização? Será que eu me importo com os olhares julgadores das pessoas, ou a curiosidade de tantas pessoas, a curiosidade boa, a ruim? Acontece que toda e qualquer ação de uma pessoa estará sob julgamento de outras pessoas. Não sei por qual motivo o ser humano insiste em ter que apontar e querer definir o que é aceitável e o que não é em níveis tão pessoais. Por que.... se uma pessoa se sente compelida a pintar o cabelo quando vê os primeiros fios brancos nascendo, ou usar maquiagem e produtos contra rugas, ou fazer plásticas para "consertar falhas estéticas" (sejam elas definidas pela sociedade ou pelo próprio gosto da pessoa), por que eu não posso colocar no meu corpo desenhos e palavras que me ajudam a definir quem sou e ilustram os conceitos das coisas em que acredito? E por que eu devo me importar com o que os outros acham de mim, se eles nem me conhecem... se eles não querem saber de mim, mas do que está no meu corpo? Eu não preciso disso, então eu não vou dar bola pra isso.
Ok, mas e a dor? Bem, aí entra um assunto delicado. A dor e o prazer são gerados em diferentes processos cerebrais, mas refletem nas mesmas áreas do cérebro, em especial o córtex frontal. Eu poderia parar por aqui e deixar que você tire suas próprias conclusões, mas não quero que você entenda mal.
E então voltamos ao córtex. Ele recebe tanto as sinapses de dor quanto as de prazer e é ele que define o que fazer com elas. Além do que diz no vídeo, também acredito que haja uma conexão emocional com a dor. Depende do que você viveu na vida, depende das tuas experiências e de como você se sentiu em momentos de dor. Eu nasci com ajuda de fórceps, depois tive otites que me levaram a uma meningite. Lembro do meu aniversário de 2 aninhos no hospital. Lembro da minha cirurgia de adenóides, lembro de estarem costurando minha pálpebra quando rasguei o olho com uma máquina de sovar pão, lembro de costurarem o meu queixo, lembro dos meus pais me cuidando, colocando um algodão com azeite quente atrás das minhas orelhas por conta de mais otites... essas dores me remetem a carinho, a alguém estar zelando por mim, pela minha vida... então eu não me lembro da dor, me lembro de ter gente em volta de mim, de me darem remédio, de me darem carinho, de brigarem para eu usar sempre um calçado e um agasalho e não sair de cabelo molhado. Eu não me lembro da dor, eu me lembro do amor. Depois, por ser mulher, tem as dores femininas. Não falo de cólicas, falo de arrancar sobrancelha e os pelos das pernas e da virilha. Eu gostava de cera porque ficava tudo muito macio depois e por isso a dor não importava. Eu tirava tudo da cintura pra baixo, tudo... e ainda ia trabalhar depois. Mais além tive miomas gigantes que trouxeram dores por 3 anos, pra ir aos pés, pra transar, pra usar uma calça que pegava na barriga....depois teve a dor da cicatrização (afinal de contas, passei por 2 cesáreas. A primeira foi só pra remover miomas, a segunda meu útero. A primeira recuperação foi pior porque o útero teve que cicatrizar, foi foda).
Existe uma forte conexão entre dor e instinto de sobrevivência. Para algumas pessoas, andar numa montanha russa é considerado coisa de gente doida, porque a sensação de estar lá representa um perigo iminente, para outras, essa sensação vira prazer pois o cérebro sabe que aquilo é uma situação controlada, então a adrenalina gerada vem para dar prazer, e então não vai servir para te "salvar"da situação porque aquele perigo não é real. Troque a montanha russa por filmes de terror ou até BDSM. A dor de uma cirurgia pode ser debilitante para muitos, pra mim significava cura, cicatrzação, meu corpo respondendo e trabalhando.
Da mesma forma, a dor da tatuagem entra no prazer, porque é uma situação controlada e o produto dessa dor será um belo desenho. Meu medo seria real caso eu não confiasse no tatuador - bom, mas daí eu não tatuaria, né? convenhamos! (...) Dói, mas é bom. Atualmente estou riscando o pior lugar do corpo pra se riscar: a costela. Minha tattoo vai desde logo abaixo da axila até o ossinho da bacia. Em dois dias terei cores invadindo meu corpo e alertando meu sistema nervoso de que há uma ferida ocorrendo e ela precisa ser cicatrizada.
E o que elas significam? Você não vai se arrepender depois de velha? Minhas tatuagens têm significados diversos, ou seja, a mesma tatuagem tem mais de um significado e, já mais de uma vez, acabei descobrindo novos significados somente depois de anos. Isso acontece também porque a gente envelhece e aprende coisas novas, ou às vezes se torna mais parecido com uma ideia que se desenvolve dentro de ti, muitas vezes por causa daquela tatuagem. É um processo bem interessante e não há como entender se você não tiver uma tatuagem ou qualquer modificação corporal drástica, como deixar de ser loira pra ser morena, ou usar lentes coloridas diariamente durante um período, ter plásticas ou fazer piercing ou tatuagem. Então tem todo esse processo de despedir-se de uma parte da pele, de saber que pro resto da vida você não vai mais poder ver aquele espacinho da tua cor natural. Mas se você pensar que trocamos de pele o tempo todo e que as camadas mais internas sofrem pelo sol, desidratação, alimentação e outros fatores e portanto, nossa pele muda e ganha cores, manchas e texturas que antes não existiam, você deveria dar adeus diariamente a essas áreas e pele que vão se trasnformando. Envelhecer é mudar de corpo, de identidade. Fazer tatuagens e envelhecer é isso...É gerar e abraçar um novo eu, é descobrir-se novo e buscar compreender os motivos de se ter recriado, é zelar por aquele novo eu, é adornar-se, é expor belezas (mesmo que os outros não vejam da mesma forma), é mostrar-se como um universo.
Me irrita muito essa mania do ser humano em regular tudo, repito. No entanto, vejo o futuro com bons olhos. Agradeço à arte, aos jogos de RPG, filemes,video games, jogos de realidade virtual, obras de fantasia, artistas e a todos os autores (seja do que for) que diversificaram espécies, customizaram roupas e fizeram uma salada de frutas de tipos e estilos de seres, todos convivendo em um mesmo universo. Agradeço a todos os jogadores por terem criado seus personagens do jeito que quiseram, aos cosplayers por brincarem com essa questão.... porque estamos em 2017 e já vimos que a pluralidade é o normal. Brincar com isso é natural, é normal e é esperado... por que isso nada mais é que descobrir o quanto somos infinitos e o quanto somos interessantes e inteligentes. Conter esse tipo de manifestação humana é como decepar a mão dominante de alguém. Então fico feliz de ver muitos tipos de humanos na rua, andando confiantes e reluzindo de alegria por estarem confortáveis em serem quem são.
(Ei, meu corpo também é um templo. Só que com vitrais nas janelas)
Oi gato, tudo beleza?
Te achei uma delicinha, sabia? Eu tava te olhando lá daquele canto. Queria te
levar pra casa.
Você é bonito, parece
ter um bom papo...gostoso... você parece gostoso.
Mas será que você é
gostoso mesmo? Você sabe fazer uma mulher gozar, se derreter em cima de ti?
Sabe fazer ela se sentir confortável e desejada ao mesmo tempo? Como você gosta de transar? Quais posições
você acha que entra mais gostoso? Você beija na hora do sexo? Tem um pouquinho
de preliminar – não precisa ser muito não, não é toda mulher que gosta- ou não
tem nada, só chega pá? Você retribui
sexo oral ou só recebe? Acho que pau não é pai de santo, né?
Sabe por que eu te
pergunto isso... é porque eu estou cansada de sair toda linda, conhecer um cara
legal, ir pra cama e me desiludir. Outro dia transei com um cara e foi uma
merda. Ele deitou com o dito cujo em pé e eu tive que fazer todo o serviço,
parecia um robô. Eu nem consegui imaginar nada e gozar através da minha
imaginação. Foi muito chato.
Se você for homem
britadeira, também vou pedir licença... Você sabe como é um desse, né? Ele
entra e sai num frenesi louco que chega a doer. Não tem nada mais triste que um
homem britadeira, sabe? Eu tenho pra mim que o cara acha que ele é o provedor
do prazer, que ele vai meter e a mina automaticamente vai se desfazer em
gemidos. Um homem não é um pênis... se fosse só isso eu comprava mil dildos e
fazia um canavial no meu quarto.
E essa coisa de se
sentir confortável , deixa que eu te explico: mulher só goza se estiver em paz.
Se um cara me deixa em dúvida ou inquieta, com receio, pode ser até que eu
transe numa tentativa de dar mais uma chance (sempre há os tímidos e os
cabreiros), mas eu não vou gozar. Não vou conseguir. Deixar a gata confortável
(e feliz por estar contigo) é o primeiro passo. Bem de boa, eu não me importo
se o cara quer me comer só essa noite. Please, estamos em 2015, eu curto sexo
casual. Mas sexo pra ser legal tem que ser como uma brincadeira: a ideia é se
divertir sem traumas, sem choro e sem cara feia. Se der em orgasmos, yay, que
sejam muitos!
Você não acha? Ou você
acha que eu sou uma tola, como toda mulher, que fica mendigando orgasmo?....
Filho, tem iogurte pra
mulher ir aos pés porque a sociedade determinou que mulher não pode nem
peidar, imagina o que é uma mulher
sexualmente livre! Todo dia é uma corrida pra longe da fogueira.
Desculpa chegar já
largando tudo isso. Mas é que tá difícil, ainda, ser mulher. E a gente é tão
linda, tão cheia de surpresas boas , que só são surpresas (e não aspectos
naturais da gente) porque fomos ao longo da história sendo amputadas, coagidas,
repelidas, castigadas, submissas....
Então, eu só te peço
que você me coma celebrando a minha existência, comemorando a minha vontade de
gozar contigo e, se bater no peito, quem sabe se encontrar de novo e ir
curtindo um ao outro. E se nenhum se
apaixonar, pelo menos teve muito prazer, prazer, prazer e, claro, muito
respeito.
Dia deses li um texto sobre a tal personagem da Paola Oliveira e fiquei triste, de verdade. Eu não deveria falar nada porque nunca vi o tal programa em que a Paola é estrela, faz anos que não assisto à emissora. Não assisto porque não gosto, não preciso e não sou obrigada. Sobre a Paola: linda, cara de chique, dizem que é uma chata em casa (mas isso é uma questão de gosto e opinião, right?). Se é boa atriz não sei, porque isso é muito relativo no país. Há alguns superbem falados e eu acho ruinzinhos, mas vai ver eu também sou chata como a Paola... whatever.
Deixa eu explicar o motivo da minha tristeza. O texto falava sobre o cara chegar podre em casa e se deparar com a gostosura da Paola na tv e a mulher em casa sofrendo pra cuidar de filho, trabalhando, ainda cuidando da casa... ele deseja a artista, mas conclui que ela é uma farsa e prefere a esposa.
Há algo muito errado nisso tudo. Primeiro que se você é um marido tão maravihoso, por que raios é só a esposa que tem 3 empregos (sim, galera, ser mãe dá um trabalho enorme! Não sou mãe mas conheço muitas)? E é só por isso que você valoriza sua esposa: pela capacidade dela em operar, em ser produtiva? Isso significa força necessariamente? Será que sua esposa não teria outras opções de escolha caso você ajudasse na limpeza, ou na cozinha ou cuidando da prole? Será que ela não seria ainda mais gostosa que a imagem da tv? Será que ela não ia ter mais tesão em você? Será que ela não fica pensando no carinha que trabalha na padaria enquanto vocês transam, porque ele é gentil e cuidadoso com ela naqueles 5 minutinhos diários em que ela vai comprar pão pro teu café da manhã?
Sabe, a gente nasce aberto pra amar no sentido real da coisa: amamos como aquela pessoa nos faz sentir, como ela nos mostra o que há de melhor em nossas almas. A gente ama não pela estética, mas porque podemos confiar na pessoa, amamos o toque, o gosto, o cheiro. Porque amar é algo que se faz por inteiro. Mas passam a vida toda nos ensinando que o que importa é a estética, o plástico. É bom ver corpos através de telas ou impressos porque eles são esteticamente perfeitos. Agora quando o corpo é real, ele traz uma série de informações e bagagens difíceis de lidar, frágeis, desafiadoras. E é cada uma dessas nuances que compõe um ser humano. Mas também somos ensinados a gostar de padrões. Para mim, esse é o maior erro da humanidade. Endeusar coisas é complicado, garotada, a gente corre o risco de se tornar só mais um tijolinho ao invés de ser um universo.
Eu nunca tive amores por artistas no sentido físico. Acho muita gente linda maravilhosa, mas nunca paguei pau pra ninguém (tive uns platonismos, quem não teve?). Gosto de mentes, de gente desafiadora, que me faz pensar, que me instiga. Por que eu desejaria a minha esposa e não a moça da tv? Porque ela é uma pessoa real pra mim. Não acho que a Paola seja uma farsa: há gente de todo tipo. Quem sabe se minha esposa fosse uma dondoca louca eu a a amasse justamente por isso, ou se ela fosse uma moça simples do interior, delicada e tímida, se fosse desajeitada, se fosse meio maníaca, se não usasse nunca maquiagem, se tivesse vergonha da celulite... eu a amaria, em especial, por um motivo único, uma característica só dela, porque ela me mostrou isso e me deu de presente seu coração e confiança, porque somos íntimos e cúmplices.
Acho uma tristeza isso tudo, sabe? Querer sempre o que não é seu. É uma doença. Querer estar sempre disponível também pode mostrar um medo gigantesco de se deixar conhecer, de tentar descobrir essas peculiaridades e sair dessa padronagem alienante.
Aí a mulher desiste de chamar uma empregada pra ter um tempo livre porque o marido tá babando pra tv e pode querer a empregada, e continua trabalhando feito uma louca. Não tem tempo nem pra arranjar um amante que entenda que sexo não é só beleza, sexo é muito mais que isso. Porque ela tem medo de fazer umas loucuras com o marido... vai que ele acha que ela andou treinando por aí, ou que andou vendo uns vídeos na internet. Ele não acha que isso sejam coisas pra mulher ver. E aí vira esse círculo vicioso em que tudo rola bem só no campo da imaginação: ele pensa na tv, ela neura sobre o que queria fazer e não pode, mas de vez em quando sonha com algum galã.. e no fim das contas nada disso é real, muito menos o sexo. E ela continua achando que ser mulher de verdade é essa escravidão de 3 turnos para o marido "provedor da casa", que acha que respeito é isso mesmo e tá tudo muito massa.
E daqui 10 anos alguém vai estar escrevendo algo muito parecido com o que vocês acabaram de ler, porque é muito difícil se desfazer de uma cultura assim, mas eu espero que você esteja vivendo um caso tórrido com seu amor (independente da idade de vocês, de como estão os corpos ou de quantos anos tem a união), cheio de sacanagem, orgasmos e risadas. E um bom vinho pra acompanhar.
A cidade está louca. Colocaram umas sinaleiras teste por todo o centro da cidade. Algumas ainda não foram ativadas e piscam o amarelo ininterruptamente. Alguns motoristas não sabem o que fazer, param, achando que a sinaleira vai ficar vermelha ou verde. O trânsito está um caos. Imagine nos dias antes do Natal. Estava uma delícia transitar pelas ruas, tanto como pedestre quanto como motorista. Eu nem vou falar dos taxistas, nem das pessoas que atravessam fora da faixa. Só uma dica: se eu te atropelar fora da faixa, a culpa é tua, pois você também é um veículo e deve respeitar a sinalização, as regras, a fim de não provocar acidentes.
Além de que o fim de ano deixa as pessoas meio loucas. Todo mundo quer traçar metas para o futuro e acabam nem vivendo o hoje, só pensando em metas que nunca se concretizam, porque só são pensadas, mas nunca desenvolvidas. Acho que esse é o problema das metas: o foco está no resultado. E é por isso também que o trânsito é uma meta. As pessoas só pensam no lá, quando na verdade o que precisamos pensar é como chegar lá. Isso também é um problema para o aprendiz de línguas... Não adianta fazer um monte de aulas durante a semana, nem somente completar as lacunas do livro. É preciso pensar sobre o que está aprendendo, e pensar sozinho, fora da aula, para poder se compreender. Afinal, aprender uma língua é aprender sobre um novo eu, um eu que fala um idioma diferente, que precisará pensar certas coisas de forma diferente. Então, mais uma vez, o foco é no processo, e não no resultado.
Estava pintando o cabelo esta manhã (aliás, escrevo enquanto a tinta age e colore também partes do meu rosto), e lembrei de um fim de ano. A Ingrid (minha irmã) devia ter uns 3 anos, então isso foi quando eu tinha 15 ou 16 anos. Estava nublado. Meu avô ainda estava bem, eu acho... não lembro quando ele adoeceu... e eu fui ajudar a Tata com a comida, fazer saladas e farofa, preparar as frutas. Me deu uma nostalgia gostosa. Senti uma saudade apertada da minha casa, de poder observar os pássaros se alimentando no clima vaporoso de antes da chuva, de ter cachorros, andar descalça na grama. O que mais me dói é essa dor de não ter árvores, não ter fauna e flora em contato direto comigo. Me amortece, me deixa com um pedaço faltando, eternamente. E o vento na minha casa???? Ah, o vento trazia minhas melhores sensações. Ficava parada em frente à porta do meu quarto, no corredor, e só sentia o vento em mim, de olhos fechados. É duro passar por lá e ver que as mudanças são permanentes... mas um dia hei de ter isso novamente, em um novo lugar, e eu serei uma nova eu.
Mas nesse processo de chegar lá já terei essa nostalgia por onde vivo e por quem sou hoje. Sou uma devota do desenvolvimento, gosto de me apropriar de tudo que passa pela minha alma no rio da vida. às vezes isso me torna uma pessoa sumida. Desapareço, perco o contato, me perco em mim. Mas eu sempre volto, eu sempre encontro a superfície e tento espalhar luz a todos.
Fim de ano me deixa emotiva, porque saio do meu renascimento nesses 2 meses e 7 dias que me separam do ano novo mundial. E acho que todo mundo devia renascer, mesmo. Devia entrar em um processo para, especialmente, compreender o outro e compreender que há certas regras de respeito e altruísmo.
Então, desejo que hoje você morra... para renascer mais humano, mais compreensivo e aberto, para respeitar não porque será respeitado, mas porque você é humano e é bom. Que nasça a gentileza em teu coração. E espalhe luz. Seja luz. E que seu 2015 seja belo e intenso, como a vida deve ser.
Ah, e se quiser fazer os rituais, faça. Mas saiba que tudo que acontece depende de você e de pessoas, não de forças superiores. Pra quê querer algo de fora se você tem tanta luz dentro de si?
A noite de quinta foi uma delícia. Traduzi uma parte de um artigo, comi uma torrada cheinha de salada preparada pelo marido (e parsa - a grafia disso é irrelevante), tomei banho e me arrumei. Como ele mesmo disse, eu estava leve. Venho me sentindo assim há alguns dias, apesar da TPM querida. Fomos aproveitar a promoção da caipirinha dupla no nosso bar preferido. Que vibe boa a dessa noite. Dormi pouco, pios tinha aula de manhã. Não tomei café, mas lembrei do hormônio da tireoide (alguém invente um subcutâneo de liberação lenta, please). Na aula ganho um mimo de uma aluna amada, doce e dedicada. Está em frente aos livros do King. Um globinho de neve (glitter) que vai sempre me fazer lembrar dessa guria. Fiquei feliz. Depois notícias meio eca... a semana foi pesada. Aconteceu tanta coisa, falei de tanta coisa, liberei, absorvi. Passei o dia meio de ressaca, mas a noite dessa quinta foi a expansão da minha leveza interna.
À tarde resolvo me desconectar um pouco. Uma aluna desmarca pois está já de férias, curtindo o campo. Fez bem. Nada se compara à paz de estar em contato com a natureza e aqueles que amamos. Por isso, saí de casa mais tarde, rumando para um desses celeiros de produtos naturais. Precisamos de castanhas e passas e damascos e deliciosidades do tipo. Eu vestia meus sapatos de veludo vermelho, meio Dorothy, um vestido preto cheio de corações brancos, minha bolsa de cupcakes by Aline Galvão e um óculos estiloso. Nessas horas me pergunto quantos anos tenho e chego à conclusão de que tenho todas as idades juntas.
Uma quadra depois, na esquina, avisto uma senhora com o braço imobilizado mas segurando uma sacolinha de farmácia com papeis, na outra mão uma bengala. Seu torso fazia um ângulo de 120 graus. Era fim de tarde e o trânsito estava intenso.
Cheguei até ela, segurei sob o braço imobilizado e disse "Eu acompanho a senhora".
Ela ergueu muito os olhos para encontrarem os meus. "Será que podemos ir?" O motorista que liderava a fila de carros joga o braço pra fora e sinaliza que atravessemos.
"Deus me coloca esses anjos no caminho. Faz 12 anos que estou toda quebrada, ninguém me cuida, fico sozinha. Esse Deus é muito bom, não é mesmo?"
"É, sim." Cada uma de nós tem uma concepção diferente de deus. O meu tem letra minúscula sempre, mas isso não vem ao caso. Não digo nada sobre isso a ela, afinal, o bem é feito de coração e era isso que bastava.
Subo mais uma quadra com ela, no tempo dela, parando de quando em quando, ouvindo sua história, seus problemas médicos, a história sobre o trágico dia em que ela foi quebrada (pernas e um braço - que jamais ficou bom) há 12 anos, o marido falecido... a farmácia diária, exames mensais e quase 90 anos de vida. Ela gosta da vida, apesar de tudo. Reza muito, afinal é isso que tem para fazer já que mal caminha. O trajeto era de volta do médico. Não sei desde onde ela caminhava. Atravessei mais duas ruas com ela. Notei que não usa aparelho, mas tem uma audição exemplar. Eu vou estar surda na idade dela, não totalmente, mas surda.
Chegando à porta de entrada do prédio em que reside, falamos do cuidado dos filhos e parentes com os mais velhos. Eu penso que a vida é muito louca e ninguém sabe o que vai acontecer. Ela cuidou de muita gente, mesmo depois de estar com dificuldades de se movimentar. Eu digo "Depois fazem velório e vai todo mundo chorar a perda..." e ela "mas nem cuidaram da pessoa, nem deram bola. Faz ó que eu não vou a velório. Eu já disse que não quero velório. Que me botem no caixão e me enterrem direto. Velar pra quê?" "Eu também não quero e não gosto. É cheio de gente falsa e o pobre do defunto fica lá exposto." Ela dá uma risada gostosa. Me indica o número do apartamento. Pergunto o nome dela: Eva. "Desse nome você não vai esquecer. Não tem muita Eva por aí." "É claro que nunca vou me esquecer do teu nome." "E o teu?" "Carolina." "Eu gosto do nome Carolina. Tenho uma bisneta. Quando estiver por aí pode vir aqui. Você é muito linda, sabia? Querida!!! Continue sempre assim muito querida. Ganhou o dia de trazer uma velha pela rua, hahaha" "Ganhei mesmo, ouvi muitas histórias." "Deus te abençoe. Você sabe que é muito linda e querida né." Vi que os olhos estavam brilhando de lágrimas felizes. "Deus te abençoe e até logo."
Tem aquele dia em que a gente encontra oportunidades. Agradeço aos motoristas que pararam para que atravessássemos em segurança. E sinto muito pelas mentes vazias que riram de mim, por estar acompanhando uma velha... uma velha de uma vida sofrida, uma velha forte, benevolente e corajosa.
Estou aqui cheia de coisas para traduzir, de aulas para preparar, tenho que lavar roupa e dar uma geral na casa, mas eu precisava contar essa história. Eu nunca direi à Eva, mas deus pra mim são esses encontros entre almas que se ajudam, seja no simples atravessar a rua, seja mostrando um pouco da história de vida que ensina tanto em tão pouco tempo. Geralmente chego ao trabalho em 5 minutos. Hoje levei 25, mas encontrei um pouquinho de deus, encontrei uma alma que precisava de um cafuné.... e eu não sabia, mas precisava ver a felicidade nos olhos dela, daquela alma dolorida. Obrigada, Eva, por trazer paz pra dentro de mim.